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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Simone Homem de Mello

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Escritora e tradutora literária, Simone Homem de Mello é graduada em Letras Anglo-Germânicas e Latinas pela Universidade de São Paulo, fez mestrado em Literatura Alemã na Universidade de Colônia (Alemanha) e doutorado em Estudos da Tradução na Universidade Federal de Santa Catarina.

No período de 1993 a 2010, esteve na Alemanha e trabalhou como autora, dramaturgista, libretista de ópera, tradutora e redatora. Sua produção nesse ínterim, incluiu a escrita de libretti para as óperas Orpheus Kristall (música: Manfred Stahnke, Biennale für Neues Musiktheater, Munique, 2002), Keine Stille außer der des Windes (Nem Silêncio senão o do Vento, música: Sidney Corbett, Bremer Theater, 2007), UBU – eine musikalische Groteske (música: Sidney Corbett, Musiktheater im Revier, Gelsenkirchen, 2012). Além disso, publicou seus poemas em português nos livros Périplos (São Paulo, Ateliê Editorial, 2005), Extravio Marinho (São Paulo, Ateliê Editorial, 2010), Terminal, à Escrita (São Paulo, Lumme Editor, 2015) e em antologias brasileiras e estrangeiras de poesia contemporânea.

Como tradutora, seu trabalho corresponde, em sua maioria, à poesia moderna e contemporânea de língua alemã, bem como à obra do escritor austríaco Peter Handke, do qual ela traduziu livros como Ensaio sobre o Cansaço (2020), Ensaio sobre o dia exitoso: sonho de um dia de inverno (2020) e Don Juan (narrado por ele mesmo) (2007). Entre 2012 e 2014 atuou como coordenadora do Centro de Referência Haroldo de Campos no museu Casa das Rosas, lugar onda atua hoje como pesquisadora de acervo. Desde 2011, coordena o Centro de Estudos de Tradução Literária do museu Casa Guilherme de Almeida. Suas últimas publicações são, inclusive, referentes aos irmãos de Campos e a uma tradução feita por Guilherme de Almeida, sendo elas: Augusto de Campos – Poesie (antologia traduzida para o alemão, Selo Demônio Negro, 2019), Haroldo de Campos Tradutor e Traduzido (coorganização, Editora Perpectiva, 2019) e Histórias em Imagens e Versos – Wilhelm Busch Traduzido por Guilherme de Almeida (crítica literária, Ateliê Editorial, 2017). 

 

Verbete publicado em 16 de January de 2023 por:
Laura Cristina de Souza Zanetti
Sheila Maria dos Santos

Excertos de traduções

Excerto de Ensaio sobre o cansaço, de Peter Handke. Tradução de Simone Homem de Mello.

Früher kannte ich nur Müdigkeiten zum Fürchten.

Antes eu só conhecia cansaços de dar medo.

Wann früher?

Antes quando?

In der Kindheit, in der sogenannten Studienzeit, ja noch in den Jahren derfrühen Lieben, gerade da. Während einer der Christmetten saß das Kind inmitten der Angehörigen in der dichtbevölkerten, blendhellen, von den bekannten Weihnachtsliedern schallenden Heimatkirche, umgeben von Tuch-und Wachsgeruch, und wurde befallen von der Müdigkeit mit der Wucht eines Leidens.

Na infância, na chamada época da faculdade e ainda nos anos dos primeiros amores, sim, principalmente então. Durante uma das missas, a criança sentada em meio aos parentes na igreja do vilarejo — densa de gente, clara de ofuscar, ecoando as conhecidas cantigas de Natal, envolta em odores de tecido e cera — foi acometida pelo cansaço com o furor de um sofrimento.

Was für ein Leiden?

Que tipo de sofrimento?

Wie man Krankheiten »häßlich« oder »bösartig« nennt, so war diese Müdigkeit ein häßliches und bösartiges Leiden; welches darin bestand, daß es entstellte, sowohl die Umgebung – die Kirchenbesucher zu einpferchenden Filz- und Lodenpuppen, den Altar samt blinkendem Aufputz in der undeutlichen Ferne zu einer Stätte der Torturen, begleitet von den warren Ritualen und Formeln der Ausführer – als auch das Müdkranke selber, zu einer Groteskfigur mit Elefantenkopf, auch so schwer, so trockenäugig, so wulsthäutig; entzogen durch die Müdigkeit dem Stoff der Welt, in diesem Fall der Winterwelt, der Schneeluft, der Menschenleere, etwa auf jenen Schlittenfahrten nachts unter den Sternen, wenn die anderen Kinder allmählich in die Häuser verschwunden waren, weit über die Ränder des Dorfes hinaus, allein, begeistert: vollkommen da, in der Stille, im Sausen, im Blau des vereisenden Wegs – »es zieht an«, sagte man von solcher wohligen Kälte. Nun aber, dort in der Kirche, die ganz andere Kälteempfindung des von der Müdigkeit als einer Eisernen Jungfrau Umschlossenen, und es, das Kind, ich bettelte mitten in der Mette heim, was fürs erste einmal bloß »hinaus!« hieß, und verdarb seinen Angehörigen damit eine der ohnehin, durch das Schwinden der Bräuche, immer selteneren Gemeinschaftsstunden mit den anderen Bewohnern der Gegend (wieder einmal).

Assim como doenças se denominam “feias” ou “malignas”, esse cansaço era um sofrimento feio e maligno; que consistia em transfigurar, tanto o entorno — os visitantes da igreja em bonecos de feltro e lã; o altar e seus ornamentos reluzentes, àquela distância difusa, em um local de tortura com seus confusos rituais e a linguagem formular dos ministrantes —, e até o próprio doente de cansaço, ele também, numa figura grotesca com cabeça de elefante, tão pesada, com olhos tão secos e pele cheia de excrescências, ele ali privado da matéria do mundo pelo cansaço, nesse caso, privado do mundo de inverno, do ar da neve, da ausência de gente naqueles trajetos de trenó à noite sob as estrelas, por exemplo, enquanto as outras crianças iam desaparecendo aos poucos para dentro de suas casas, mas ele seguia para lá das bordas do vilarejo, assim solitário, entusiástico: inteiramente aqui, no silêncio, em disparada, no azul do caminho que congelava — “está acirrando”, dizia-se desse frio aconchegante. Mas lá, dentro da igreja, era uma sensação de frio bem distinta para quem estava cingido pelo cansaço como por uma Virgem de Ferro, e ela, a criança, eu começava a implorar para voltar para casa no meio da missa — o que inicialmente significava apenas “fora daqui!” — e assim acabava estragando (mais uma vez) as horas de convivência de seus parentes com outros moradores da região, já cada vez mais raras naquela época, dado o desaparecimento das tradições.

 

 

HANDKE, Peter. Versuch über die Müdigkeit. Berlin: Suhrkamp Verlag, 2012, p.6.

HANDKE, Peter. Ensaio sobre o cansaço. Tradução de Simone Homem de Mello. São Paulo: Estação Liberdade, 2020. Edição Kindle

Excerto de Don Juan (narrado por ele mesmo), de Peter Handke. Tradução de Simone Homem de Mello.

Don Juan war schon immer auf der Suche nach einem Zuhörer gewesen. In mir hat er den eines schönen Tages gefunden. Seine Geschichte erzählte er mir nicht in der Ich-Form, sondern in der dritten Person. So kommt sie mir jetzt jedenfalls in den Sinn.

Don Juan sempre estivera à procura de um ouvinte. E foi em mim que, um belo dia, o encontrou. Sua história, não me contou em primeira pessoa, mas em terceira. Pelo menos é assim que me vem à memória agora.

Zu der Zeit kochte ich in meiner Herberge nah den Überresten von Port-Royal-des-Champs, der im siebzehnten Jahrhundert berühmtesten und auch berüchtigten Klosteranlage Frankreichs, vorübergehend nur für mich allein. Auch die paar Gästezimmer wurden damals Teil meines privaten Wohnbereichs. Alle die Winter-und die Vorfrühlingsmonate verbrachte ich mit solchem Wohnen, welches einzig aus Speisenzubereiten zum Eigengebrauch und aus Haus-und Gartenarbeiten bestand, hauptsächlich aber aus Lesen und zwischendurch auch Blicken aus dem einen wie dem andern der kleinen alten Fenster meiner Gaststätte, eines ehemaligen Pförtnergebäudes von Port-Royalin-den-Feldern.

Naquele tempo, eu cozinhava no meu albergue, próximo dos escombros de Port-Royal-des-Champs, o mais famoso e também mais famigerado monastério da França do século XVII; temporariamente eu estava cozinhando só para mim. Também os poucos quartos de hóspedes se tornaram então parte da minha área privativa de moradia. Em todos os meses de inverno e precedentes à primavera, eu levava uma vida que consistia apenas em preparar refeições para consumo próprio e fazer serviços domésticos e de jardinagem, mas sobretudo ler e, de vez em quando, olhar de uma ou outra das janelas pequenas e velhas da minha hospedaria, no edifício da antiga portaria de Port-Royal-dos-Campos.

 

 

HANDKE, Peter. Don Juan (erzählt von ihm selbst). Berlin: Suhrkamp Verlag, 2004, p. 7.

HANDKE, Peter. Don Juan (narrado por ele mesmo). Tradução de Simone Homem de Mello. São Paulo: Estação Liberdade, 2007. Edição do Kindle.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Frye, Northrop. Sobre Shakespeare. [LOPES DE MELLO, Simone]. São Paulo: EDUSP, 1992. (On Shakespeare).

Handke, Peter. Don Juan (narrado por ele mesmo). [Simone Homem de Mello]. São Paulo: Estação Liberdade, 2007. (Don Juan (erzählt von ihm selbst)).

Handke, Peter. A perda da imagem ou Através da Sierra de Gredos. [Simone Homem de Mello]. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. (Der Bildverlust oder Durch die Sierra de Gredos).

Kozer, José. Atividade do azougue. [Simone Homem de Mello, Ronald Polito, Virna Teixeira, Antônio Moura & Luiz Roberto Guedes]. São Paulo: Lumme Editor, 2011.

Holz, Arno. De 'Phantasus'. [Simone Homem de Mello]. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2015.

Handke, Peter. Ensaio sobre o dia exitoso: Sonho de um dia de inverno. [Simone Homem de Mello]. São Paulo: Estação Liberdade, 2020. (Versuch über den geglückten tag).

Handke, Peter. Ensaio sobre o cansaço. [Simone Homem de Mello]. São Paulo: Estação Liberdade, 2020. (Versuch über die müdigkeit). 

Obra própria

Poesia

HOMEM DE MELLO, Simone. Anamorfoses. São Paulo: Lumme Editor, 2016.

HOMEM DE MELLO, Simone. Ciclo de Oriour (alguns poemas) 2009 - 2016. Recife: Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, 2016.

DANIEL, Claudio ; HOMEM DE MELLO, Simone. El ornitorrinco naranja. São Paulo: Lumme Editor, 2014.

HOMEM DE MELLO, Simone. 'À vista' e outros poemas. São Paulo: Lumme Editor, 2014.

HOMEM DE MELLO, Simone. Kouros/O corpo da escrita. Madri: Revista La Galla Ciencia, 2014.

HOMEM DE MELLO, Simone. O exílio de onde/O corpo da escrita. São Paulo: Revista Cult, 2014.

HOMEM DE MELLO, Simone; DANIEL, Claudio. Zunái - 10 anos. São Paulo: Lumme Editor, 2013 (Poemas publicados em antologia de poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone. 'O que escapa ao mecanismo' e outros poemas. Recife: Eutomia - Revista de Literatura e Linguística, 2012 (Poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone. Extravio Marinho. 1. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2010. v.1. 88p.

HOMEM DE MELLO, Simone et al. Prévia poesia. São Paulo: Risco Editorial, 2010 (Coletânea).

HOMEM DE MELLO, Simone et al. Todo começo é involuntário? A poesia brasileira no início do século 21. São Paulo: Lumme Editor, 2010 (Coletânea de poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone et al. Roteiro da Poesia Brasileira - Anos 2000. São Paulo: Global Editora, 2009 (Coletânea de poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone et al. Tigertail, A South Florida Poetry Annual. Miami, FL (EUA): Tigertail Productions, 2008 (Coletânea de poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone et al. Antologia de poesia brasileira no início do terceiro milênio ? Dezoito poetas da novíssima geração. Seixezelo (Portugal): 7 Dias 6 Noites, 2008 (Coletânea de poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone et al. 8 femmes. São Paulo: Papel de rascunho, 2006 (Coletânea de poesia).

HOMEM DE MELLO, Simone. Périplos. 1. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. v.1. 96p.

Partituras

HOMEM DE MELLO, Simone; CORBETT, Sidney . UBU - Eine Groteske in fünf Akten (Libreto de ópera). Berlim: Edition Nova Vita, 2012. (Partitura Musical/Outro).

HOMEM DE MELLO, Simone; CORBETT, Sidney . Keine Stille ausser der des Windes (Libreto de ópera). Berlim: Edition Nova Vita, 2007.

HOMEM DE MELLO, Simone; STAHNKE, Manfred. Orpheus Kristall (Libreto de ópera), 2002.

 

Prosa poética

HOMEM DE MELLO, Simone. Miniature for Jorge Queiroz. Londres: Thomas Dane Gallery, 2008.

 

Ensaio

 

HOMEM DE MELLO, Simone. O próximo distante da poesia de Guilherme Mansur. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2016. 

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ISBN:   85-88464-07-1

Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Comunicação e Expressão

Apoio:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

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