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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Maurício Santana Dias

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Natural de Salvador, Bahia, Maurício Santana Dias nasceu em 23 de abril de 1968. Iniciou sua formação acadêmica graduando-se em Letras pela UFRJ, onde também realizou seu mestrado na área de Ciência da Literatura. Em 2002, doutorou-se em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, com tese sobre a poesia de Cesare Pavese. Paralelamente à sua formação acadêmica, foi redator e repórter da Folha de São Paulo, entre 1998 e 2003, escrevendo para o suplemento literário Mais!, tendo atuado também como correspondente do mesmo jornal em Buenos Aires. Morou na capital argentina, nos Estados Unidos, e durante a década de 90 passou temporadas na Itália. Atualmente é professor de literatura italiana da Universidade de São Paulo.

Como tradutor, iniciou-se na atividade em 1995, quando publicou sua primeira tradução vertida do espanhol, e desde então, além de trabalhar com obras literárias, traduz também ensaios de história da arte, filosofia, crítica literária, sociologia etc. Traduz de vários idiomas, entre eles o espanhol, o francês, e especialmente, o italiano. Maurício Santana escreveu também alguns artigos referentes à sua obra traduzida e na sua tese de doutorado dedicou um capítulo acerca dos problemas de tradução na poesia de Pavese.

Verbete publicado em 15 de December de 2005 por:
Gleiton Lentz
Andréia Guerini

Excertos de traduções

Excerto de "O mal obscuro", de Giuseppe Berto. Tradução de Maurício Santana Dias:

Penso che questa storia della mia lunga lotta col padre, che un tempo ritenevo insolita per non dire unica, non sia in fondo tanto straordinaria se come sembra può venire comodamente sistemata dentro schemi e teorie psicologiche già esistenti, anzi in un certo senso potrebbe perfino costituire una appropriata dimostrazione della validità perlomeno razionale di tali schemi o teorie, sicché, sebbene a me personalmetite non ne venga un bel nulla, potrei benissimo sostenere che il mio scopo nello scriverla è appunto quello di fornire qualche altra pezza d'appoggio alle dottrine psicoanalitiche che ne hanno tuttora più bisogno di quanto non si creda, senonché una tale supposizione non andrebbe poi d'accordo col sospetto che più d'uno potrà avere alla fine, ossia che la presente narrazione non sarebbe che un forzato ripiegamento da certe mire e proponimenti di cui necessariamente dovrò parlare in seguito, che riguardano le mie ambizioni vorrei dire letterarie, e naturalmente su questo punto ognuno può pensare quel che gli pare, però io, dal momento che sono ormai prossimo a staccarmi da ogni umana ambizione e suppongo anche dalla vita stessa, trovo che sarebbe oltremodo improprio attribuire alla narratone spiccati propositi artistici, e invero ho l'impressione che la storia in certo qual modo si scriva da sola, cosa che non contrasta insanabilmente con le dottrine nominate poco fa, o almeno con la cosiddetta parapsicologia, e in effetti accade che fatti e pensieri sgorghino in gran parte automaticamente da quelle oscure profondità dell'essere dove la malattia prima e la cura poi sonno andate a sfruculiarli fino a fargli venire questa immoderata voglia di esternarsi della quale mi sembra d'essere passivo esecutore, nel senso che non le presto se non la mia diligenza espressiva, e diciamo pure stile, che in meno dolorose circostanze mi avrebbe portato chissà dove, sul cammino della gloria intendo dire. Comunque sia, questa lotta col padre, ormai vicina affermo alla sua ineccepibile conclusione, ossia all'identificazione finale dei due termini contrapposti, tanto che non si capisce se il passo ultimo sarà di sconfitta o di vittoria, è durata sessant'anni e quattro mesi per non dire di più, e in verità si potrebbe senza sforzo alcuno includervi anche il periodo prenatale, ossia quello da me trascorso nell'alvo materno, ammettendo, e non è poi un'idea un tanto fessa, che in quell'ambiente esistesse una sia pure sfortunata opposizione al mio destino di venire al mondo, e questo non nel senso riflesso, cioè che padre e madre non desiderassero la mia apparizione, ché anzi dopo di me nell'intento di avere un altro figlio maschio sfornarono felicemente ben cinque figlie femmine senza tenere conto di alcuni inframmezzati aborti del tutto involontari, sicché, non potendo essi prevedere gli scarsi contenti che ne avrebbero ricavato, non è concepibile una loro avversione alla nascita del primogenito eppertanto, accettando la tesi dell'opposizione, bisognerebbe proprio pensare ad una mia autonoma resistenza alla nascita e quindi al confronto col padre, e questo sì che sarebbe straordinario, dato che comporterebbe la formazione di una coscienza e di una volontà ancorché embrionali in me stesso allo stato di feto, la qual cosa immagino io è piuttosto rara, pur non escludendo che non una simile intuizione si possano spiegare, ma non è il caso mio, parecchie evenienze di aborti involontari che, nelle attuali condizioni del progresso scientifico, sono direi inesplicabili.

Penso que esta história da minha longa luta com o pai, que tempos atrás eu considerava incomum, para não dizer única, não seja no fundo tão extraordinária já que, como parece, pode ser facilmente acomodada aos esquemas e teorias psicológicas existentes, aliás em um certo sentido poderia até constituir uma apropriada demonstração da validez de tais esquemas e teorias, de modo que, embora a mim pessoalmente isso não queira dizer nada, eu poderia perfeitamente sustentar que o meu objetivo ao escreve-la é justamente o de fornecer outras peças de apoio às doutrinas psicanalíticas, que ainda hoje precisam de mais respaldo do que se pensa, apesar de tal suposição talvez não se ajustar com a suspeita que mais de um leitor poderá ter ao final da obra, ou seja de que a presente narrativa não passaria de um forçado desdobramento de certas intenções e propostas sobre as quais deverei necessariamente falar mais adiante, que dizem respeito às minhas ambições quero dizer literárias e, naturalmente, sobre este ponto cada um pode pensar o que bem quiser, mas eu, no momento em que estou prestes a me livrar de toda ambição humana e, suponho, até da própria vida, acho que seria extremamente inadequado atribuir a esta narração propósitos artísticos específicos, e de fato tenho a impressão de que a história num certo sentido se escreve por si, coisa que não contrasta irremediavelmente com as doutrinas citadas há pouco ou ao menos com a assim chamada parapsicologia, com efeito não é raro que fatos e pensamentos brotem em grande parte automaticamente daquelas obscuras profundezas do ser onde a doença, antes, e a cura, depois, foram remexer até o ponto de provocar essa imoderada vontade de externar-se, da qual acho que sou o passivo executor, no sentido de que apenas lhe empresto a minha colaboração expressiva e, digamos, o estilo, que em circunstâncias menos dolorosas teriam me levado a quem sabe onde, ao caminho da glória, suponho. De qualquer modo, esta luta com o pai, já próxima de seu indiscutível desfecho, ou seja, da identificação final dos dois termos contrapostos, pois que não se sabe se o desenlace será uma derrota ou uma vitória, durou sessenta anos e quatro meses, para não dizer mais, e na verdade poder-se-ia incluir aí sem muito esforço o período pré-natal, isto é, aquele que passei no ventre materno, admitindo-se, o que não é uma idéia tão tola assim, que naquele ambiente existisse uma infeliz oposição ao meu destino de vir ao mundo, e isso não no sentido reflexo, isto é, de que pai e mãe não desejassem a minha aparição, já que depois de mim, na tentativa de ter outro filho homem, eles desenfornaram alegremente cinco filhas mulheres, sem contar alguns abortos de permeio, inteiramente involuntários, de modo que, sem poderem prever as escassas recompensas que teriam, não é possível conceber uma hipotética aversão ao nascimento do primogênito da parte deles e, portanto, aceitando-se a tese da oposição, seria preciso admitir uma autônoma resistência ao nascimento de minha parte e, portanto, uma atitude de confronto em relação ao pai, e isto sim seria extraordinário, pois que comportaria a formação em mim de uma consciência e de uma vontade embrional ainda em estado de feto, coisa das mais raras, imagino, mesmo não excluindo que uma semelhante intuição pudesse explicar, mas não é este o meu caso, vários episódios de aborto involuntário que, nas atuais condições do progresso cientifico, seriam inexplicáveis.

Ad ogni modo, pur lasciando da parte il periodo prenatale, la mia lotta col padre mi sembra quanto basta varia e lunga da poter essere argomento di una storia, e a questo scopo, però più per comodità di trattazione che per altro, si può dividerla, grosso modo si capisce, in tre periodi o fasi, che nominerei semplicemente prima, seconda e terza fase, la prima essendo quella che va dalla nascita al diciottesimo anno di età, quando mi venne la bella idea, ma in fondo necessaria, di partir soldato, ed è fase caratterizzata, almeno sul principio, da una massiccia prevalenza paterna, esercitata sia simbolicamente che fisicamente, e con svariati mezzi come ad esempio l'alta statura, o il peso che superava il quintale, o il tabarro fors'anco grigioverde, o la calvizie che io non so se per associazione con le altre qualità o per indipendente formazione di concetto ho sempre considerato segno di potenza, per quanto neppure in tenera età mi sfuggissero i singolari tentativi che mio padre andava facendo onde ottenere la ricrescita dei capelli per mezzo della Chinina Migone, tanto che dovrei pensare ad una mia organica incapacità o quantomeno ottusità nel mettere in correlazione fatti diversi e contrastanti riferiti ad un unico soggetto, e invero non sono mai stato svelto in queste faccende, ma ciò non toglie che, a forza di scoprire in mio padre contraddizioni e deficienze, riuscii gradatamente a liberarmi dalla sua strapotenza e a passare, con l'alzata di testa dell'arruolamento volontario, alla seconda fase, quando, francamente, questo padre arrivai a mettermelo sotto i piedi, tanto da poterne avere addirittura pietà qualche volta, e da dargli un sacco di soddisfazioni d'ogni genere e perfino, invero non molto raramente, denaro, cosa che più o meno durò fino al mio trentottesimo anno di età, quand'egli ebbe la disavventura di morire, provocando in questo modo l'inizio della terza fase che va appunto dalla sua morte in poi, e qui le cose si sono messe dì nuovo male per me, molto male.

Como quer que seja, mesmo deixando de lado o período pré-natal, a minha luta com o pai me parece suficientemente variada e longa para poder ser o assunto de uma história, e, para este fim, mas mais por comodidade de exposição do que por outra coisa, pode-se dividi-la, grosso modo, claro, em três períodos ou frases que denominarei simplesmente primeira, segunda e terceira fases, a primeira sendo a que vai do nascimento aos dezoito anos de idade, quando tive a bela idéia, no fundo necessária, de sair de casa e me tornar soldado, uma fase caracterizada ao menos a princípio por um maciço predomínio paterno, exercido tanto simbólica quanto fisicamente, e por múltiplos meios como, por exemplo, a sua alta estatura ou o peso, que superava os cem quilos, ou o sobretudo verde-cinza, ou a calvície que eu não sei se por associação a outras qualidades ou por uma independente formação de conceito sempre considerei sinal de potência, embora desde a tenra idade eu me lembrasse das suas sucessivas tentativas de fazer crescer de novo o cabelo usando a Quinina Migone, tanto que eu deveria suspeitar em mim uma incapacidade orgânica ou pelo menos uma forte estupidez por não conseguir correlacionar fatos diversos e contrastantes referidos a um único sujeito, e a verdade é que nunca fui ágil nessas coisas, mas isso não exclui que, à força de tentar descobrir contradições e deficiências em meu pai, consegui paulatinamente me libertar da sua prepotência e passar, aprumando a cabeça para o alistamento voluntário, à segunda fase, quando francamente cheguei a pôr esse pai sob os meus pés, a ponto de poder inclusive sentir pena dele algumas vezes e de lhe dar um monte de satisfações de todo o tipo e até, com bastante freqüência, dinheiro, coisa que durou mais ou menos até o meu trigésimo oitavo ano de idade, quando ele teve a má sorte de morrer, precipitando deste modo o início da terceira fase, que vai justamente da sua morte em diante, e aqui mais uma vez tudo ficou mal para mim, muito mal.

Tutto questo il mio medico lo sa benissimo, meglio di me si potrebbe dire, e in efletti fu proprio lui che, ancora ai primi tempi della cura, interpretando nel modo più corretto un sogno che m'era capitato di fare, e precisamente quello che io classifico con la definizione di sogno della libreria Rossetti, mi diede non dico l'idea della lotta col padre morto, giacché di star combattendo col trapassato io già da un pezzo lo sapevo, ma mi fornì lo spunto probante per cui in seguito, a poco a poco si capisce, arrivammo alla spiegazione giusta ovverosia scientifica di questa lotta, togliendole quanto poteva avere di superstizioso e tenebroso, e dandole non solo ordine logico ma, soprattutto, dimensioni umane quali, pareva, era possibile sopportare. Io credo che ormai tutti o quasi abbiano un'idea sia pure approssimativa di questo genere di cure psicoanalitiche che cominciano ad essere di moda ovunque e quindi anche da noi, ma ecco, ci tengo a chiarire subito che non fu certo per una forma di snobismo che iniziai la cura, in verità ne avrei fatto volentieri a meno, se non altro a motivo del suo elevato costo, senonché in quel tempo mi trovavo tanto giù di corpo e non parliamo poi di spirito, che in pratica, se escludevo il suicidio e la cura del sonno che stava passando un periodo di sfavore, non mi rimanevano a detta di tutti che due vie d'uscita, ossia l'elettroshock e la psicoanalisi, e se può esser vero che ho scartato l'elettroshock a causa di un forse eccessivo riguardo al mio cervello, è altrettanto vero che ho scelto la psicoanalisi spinto oltreché da speranze di benefici intellettuali come si chiarirà andando avanti, anche da un segreto bisogno di sostituire in qualche modo il padre mono affinché il conflitto, se doveva esserci, avvenisse con un essere vivo e ragionevole, e non con una memoria, o qualcosa di parimenti indefinibile e inafferrabile, com'è appunto un padre morto, e per quanto all'inizio i segreti bisogni mi fossero poco chiari, il fenomeno del transfert fu precisamente la prima faccenda ad andare in porto, ossia il trasferimento degli affetti e non, come qualcuno potrebbe immaginare, l'eliminazione del padre morto e la sua sostituzione vera e propria con una persona di comodo, dato che la psicoanalisi non tende a questo, ne potrebbe comunque farlo, e in effetti essa vuole semplicemente renderci edotti dei problemi e conflitti sepolti nel nostro inconscio, in modo che noi. trovandoceli ad un certo momento inaspettatamente davanti magari sotto forme del tutto diverse, non ce ne spaventiamo al punto da perdere la ragione.

Meu médico sabe muito bem de tudo isso, pode-se até dizer que sabe mais do que eu, e de fato foi ele mesmo quem, ainda nos primeiros tempos do tratamento, interpretando da maneira mais correta um sonho que tive, precisamente aquele que classifico com a definição de sonho da livraria Rossetti, me deu não digo a idéia da luta com o pai morto, já que eu tinha consciência de estar combatendo com o finado há um bom tempo, mas me forneceu o impulso necessário a partir do qual, pouco a pouco, bem entendido, chegamos à explicação adequada ou melhor científica desta luta, purgando-a do que ela pudesse ter de supersticioso ou tenebroso e conferindo-lhe não só uma ordem lógica, mas principalmente dimensões humanas que, ao que parecia, eram suportáveis. A essa altura creio que todos ou quase todos tenham uma idéia aproximada desse gênero de cura psicanalítica que está começando a ficar na moda em toda a parte e portanto aqui também, mas devo esclarecer logo de saída que não foi por nenhum tipo de esnobismo que comecei o tratamento, na verdade eu o teria evitado de bom grado, quando menos por causa do seu custo elevado, se não fosse o fato de, naquela época, eu estar tão alquebrado de corpo e nem falemos do espírito, que, na prática, afora o suicídio e os escassos resultados da cura pelo sono, tratamento que estava passando por um período desfavorável, não me restavam segundo todos os especialistas senão duas saídas, ou seja, o eletrochoque e a psicanálise, e se é verdade que descartei o eletrochoque por talvez cultivar um excessivo apreço pelo meu cérebro, é igualmente certo que escolhi a psicanálise movido seja por esperanças de benefícios intelectuais, como esclarecerei mais adiante, seja por uma secreta necessidade de substituir de alguma maneira o pai morto de modo que o conflito, se tinha de acontecer, que fosse ao menos com um ser vivo e raciocinante, e não com uma memória ou qualquer coisa de tão indefinível e inapreensível quanto a figura de um pai morto, e por mais que de início as necessidades secretas me fossem pouco claras, o fenômeno da transferência foi precisamente a primeira coisa bem-sucedida da terapia, isto é, a transferência dos afetos e não, como se poderia imaginar, a eliminação do pai morto e a sua substituição integral por uma pessoa conveniente, posto que a psicanálise não pretende isso nem poderia de qualquer modo fazê-lo, pois que ela quer simplesmente quer nos tornar intérpretes dos problemas e dos conflitos enterrados em nosso inconsciente, de maneira que nós, ao nos depararmos em dado momento com eles, de repente, quem sabe sob formas inteiramente diversas, não nos espantemos a ponto de perder a razão.

Fare la psicoanalisi è, almeno apparentemente, la cosa più semplice del mondo nel senso che la cura consiste nell'andare dallo psicoanalista due o tre volte la settimana, e forse anche più secondo i casi, nello stendersi sullo speciale lettino o divanetto ideato dal dottor Sigmund Freud per facilitare il rilassamento, nel rilassarsi, appunto, e nel raccontare in assoluta libertà tutto ciò che passa per la testa, ma soprattutto, sempre che sia possibile, sogni fatti di recente, e la libertà espressiva che è senz'altro indispensabile dovrebbe risultare tanto più agevole inquantoebé il lettino o divanetto è disposto in modo che il cliente non possa vedere l'analista, e questo giusto per togliergli soggezione e altri sentimenti inibitori, dato che, a parte che si paga, la psicoanalisi è un pò come la confessione, ossia non servirebbe a niente se uno non andasse a raccontarvi la verità, e siccome la verità la si dice meglio a se stessi che non agli altri, ecco che il prete si nasconde dietro la grata e l'analista alle spalle del paziente, per rendere tutto più semplice sebbene qualche volta il paziente si distragga a congetturare cosa faccia l'analista mentre lui rivolto da un'altra parte si rilassa e racconta, e per ciò che mi riguarda io penso che, a giudicare almeno dai rumori, il mio giocava con le chiavi dei cassetti della scrivania e spesso trovava difficoltà ad accendersi il sigaro con l'accendino, sicché era costretto a manovrare la macchinetta anche cinque o sei volte, prima di accendersi il sigaro, o prima di rinunciare ad accenderselo.

Fazer análise é, ao menos na aparência, a coisa mais simples do mundo no sentido de que o tratamento consiste em ir ao psicanalista duas ou três vezes por semana, ou até mais, a depender dos casos, em deitar-se sobre a especial caminha ou divã idealizado pelo doutor Sigmund Freud para facilitar o relaxamento, no relaxamento propriamente dito e no ato de narrar em absoluta liberdade tudo o que passa pela cabeça, mas sobretudo, sempre que for possível, os sonhos recentes, sendo a liberdade expressiva, que é sem dúvida indispensável, propiciada e estimulada pela caminha ou divã disposto de tal modo que o cliente não possa ver o analista, justamente para livrá-lo de sugestões ou outros sentimentos inibidores, visto que, exceto pelo fato de que se paga, a psicanálise é um pouco como a confissão, ou seja, não adiantaria nada se a pessoa fosse lá para não contar a verdade, e como a verdade a dizemos melhor a nós mesmos do que aos outros, o padre se esconde atrás da treliça e o analista às costas do paciente, só para facilitar as coisas, embora às vezes o paciente se distraia especulando sobre o que o analista estaria fazendo enquanto ele, voltado para o lado oposto, relaxa e conta as suas coisas, e pela parte que me toca penso que, a julgar pelos barulhinhos, o meu brincava com as chaves das gavetas da escrivaninha e freqüentemente tinha dificuldade em acender o charuto com o isqueiro, de modo que era obrigado a manobrar o mecanismo cinco ou seis vezes antes de conseguir acender o charuto ou então renunciar de vez a acendê-lo.

II dottor Freud è stato senza dubbio un grande uomo in qualità di inventore della psicoanalisi, tanto che molti non esitano a collocarlo, alla pari con Gesù Cristo e Carlo Marx, tra i pochi geni che hanno dischiuso nuove porte all'umanità, né io naturalmente ho nulla da obiettare a questo proposito, però con quel suo lettino o divanetto rilassarono non l'ha, a mio avviso, imbroccata giusta, e in effetti per quante volte mi sono disteso su quel lettino, mai una volta mi pare che mi sia rilassato per bene, sempre sono rimasto lì col mio grumo di tensione dentro Io stomaco, con l'abituale preoccupazione di dare un ordine rigoroso ai pensieri, e con in più un aggravamento di disagio in uno dei miei punti più disgraziati, vale a dire le cinque lombari dalle quali, ho l'impressione, ebbe origine una sera lontana tutto il disastro, come con ogni probabilità mi verrà fatto di raccontare in seguito, e sebbene da allora in poi punti disgraziati me ne scoprissi addosso ad ogni pié sospinto, quello primo non me lo scordavo mai, com'è giusto, e quando mi distendevo sul Iettino o divanetto freudiano le cinque vertebre, panicolarnwnte gravate a causa della generale posizione del corpo, cominciavano a sentire caldo e ad avere formicolìi e altre spiacevoli sensazioni tutte dannose per il rilassamento oltre che per l'insieme del mio difficile equilibrio psichico, donde paura e tensione, che potevano essere in se stesse causa del fatto che io al medico non ho mai fatto parola di questo inconveniente delle lombari, sebbene poi, da un altro punto di vista, possa anche essere che abbia taciuto per non dargli dispiacere, dato che io sono certo che alle qualità rilassatorie del lettino o divanetto lui ci credeva, e non avrei voluto addolorarlo, o addirittura fargli nascere dei dubbi, rivelandogli che l'arnese, almeno con me, non funzionava.

O doutor Freud foi sem dúvida um grande homem na condição de inventor da psicanálise, tanto que muitos não hesitam em colocá-lo ao lado de Jesus Cristo e de Karl Marx entre os poucos gênios que descerraram novas portas à humanidade, nem eu naturalmente tenho nada a objetar sobre este ponto, porém, com aquela sua caminha ou divã relaxante ele não conseguiu, a meu ver, atingir o alvo, e, ao repassar todas as vezes em que deitei naquela caminha, não consegui me lembrar de nenhuma vez em que eu tivesse realmente relaxado, sempre fiquei ali com o meu grumo de tensão no estômago, com a habitual preocupação de dar uma ordem rigorosa aos meus pensamentos e além disso com o agravamento do mal-estar de um dos pontos mais vulneráveis em mim, refiro-me às cinco lombares, as quais, acho, desencadearam numa noite remota todo o desastre, como certamente terei ocasião de contar em seguida, e embora a partir dali eu descobrisse pontos vulneráveis em mim a cada piscar de olhos, obviamente nunca me esqueci daquele primeiro, e quando me estendia na caminha ou divã freudiano as cinco vértebras, especialmente pressionadas pela posição geral do corpo, começavam a sentir calor, formigamentos e outras sensações desagradáveis, todas prejudiciais ao relaxamento e ao conjunto precário do meu equilíbrio psíquico, resultando em medo e tensão que podiam ser intensificados pelo fato de que nunca mencionei ao médico esse inconveniente das lombares, se bem que, de um outro ponto de vista, pode até ser que eu tenha silenciado para não o frustrar, porque tenho certeza de que ele acreditava piamente nas propriedades relaxantes da caminha ou divã e eu não queria magoá-lo ou quem sabe até despertar duvidas nele ao lhe revelar que o famoso aparato, pelo menos comigo, não funcionava.

Berto, Giuseppe. Il male oscuro. Milano: Mondadori, 1985, pp. 19-23.

Berto, Giuseppe. O mal obscuro. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Editora 34, 2005, pp. 09-13.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Argan, Giulio Carlo. Imagem e persuasão: ensaios sobre o barroco. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Berto, Giuseppe. O mal obscuro. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Editora 34, 2005. (Il male oscuro)

Calvino, Italo. Contos fantásticos do século XIX. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. (Racconti fantastici dell'ottocento)

Canclini, Nestor García. Consumidores e cidadãos. [Por: Maurício Santana Dias]. Rio de Janeiro: UFRJ Editora, 1995. (Consumidores y ciudadanos)

Casati, Roberto. Simplicidades insolúveis: 39 histórias filosóficas [Por: Maurcio Santana Dias]. São Paulo: Cia das Letras, 2005. (Semplicit insormontabili: 39 storie filosofiche)

Morselli, Guido. Dissipatio H.G. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Ateliê, 2001. (Dissipatio h.g.)

Leopardi, Giacomo. Giacomo Leopardi: poesia e prosa. Marco Lucchesi (Org.). [Por: Maurício Santana Dias et al.]. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

Pavese, Cesare. Diálogos com Leucó. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. (Dialoghi con Leucò)

Pirandello, Luigi. Um, nenhum e cem mil. [Por: Maurício Santana Dias]. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. (Uno, nessuno e centomila)

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