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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Marcus Tulius Franco Morais

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Marcus Tulius Franco Morais é natural de Ituiutaba, Minas Gerais; tem formação em Arquitetura e Urbanismo (1978-1982) pela Universidade de Brasília e Germanística (1988-1994) pela Universidade Livre de Berlim (Freie-Universität Berlin). Viveu em Berlim (1988-1996), Ouro Preto (1998-1999), São João del-Rei (2000-2002), Paraty (2002-2005); desde 2010, vive em Florianópolis. Traduz do alemão para o português. Atualmente é doutorando na Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET), na Universidade Federal de Santa Catarina.

Começou a estudar alemão no Instituto Goethe em 1978, quando iniciou os estudos de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília. Em 1982, terminando o curso universitário, foi contemplado com uma bolsa de estudos do Instituto Goethe para estudar alemão durante dois meses em Freiburg i. Br., no sudoeste da Alemanha. Após o término do curso, permaneceu por lá e realizou outros cursos de alemão, o que lhe deu a oportunidade de conhecer o alemão de regiões diferentes, com seus linguajares e modulações variados.

Em 1987, em Berlim, fez uma prova de proficiência em língua alemã na Freie Universität Berlin e conseguiu uma vaga no Departamento de Filologia, o que lhe permitiu estudar germanística e trabalhar. Os romances, as novelas e a poesia alemã que ia descobrindo e lendo, assistindo às aulas no Departamento de Filologia da Universidade Livre de Berlim, lhe gerou uma necessidade de compartilhar tudo isso com os amigos no Brasil. Assim começou a traduzir e enviar-lhes fragmentos de textos, contos, poemas. No começo dos anos 90, teve contato com o prosador e dramaturgo Hans Henny Jahnn e sua obra. Albrecht Heyn, diretor de teatro, com quem viveu em 1987 na Leberstrasse (rua onde cresceu Marlene Dietrich), em Berlin-Schöneberg, deu-lhe de presente A noite de chumbo (Die Nacht aus Blei), uma novela de Hans Henny Jahnn, um dos nomes centrais na prosa e dramaturgia alemã.

"Uma noite, peguei o exemplar, li a primeira página e naquela mesma noite devorei o texto, e soube que, um dia, teria de traduzir a novela de linguagem expressionista e tocante. O Expressionismo alemão nos é conhecido através do Cinema, das Artes Plásticas e da Música. Da literatura alemã, conhecemos muito pouco, e é também por isso que traduzi A noite de chumbo, um exemplar desse movimento literário que traduz com precisão aqueles tempos sombrios da primeira metade do século XX." (Marcus Tulius)

Em 1996 retornou ao Brasil. Desde então ministra aulas de alemão e traduz obras do alemão para o português. Marcus Tulius tem um pequeno selo editorial chamado Ugrino, que tem como objetivo principal editar traduções de obras relevantes de autores de língua alemã e, assim, apresentar uma nova geração de prosadores e dramaturgos inéditos no Brasil como, por exemplo, autores que em 1933, ano em que Hitler tomou o poder, tiveram suas obras retiradas de circulação e queimadas. Ugrino é um projeto concebido por Hans Henny Jahnn (1894-1959) e organizado com um grupo de amigos, cujos propósitos são os de se opor à violência do mundo e à destruição do patrimônio artístico-literário.

Verbete publicado em 10 de September de 2013 por:
Rafaela Marques Rafael
Andréa Cesco

Excertos de traduções

Fragmento de "Mov", conto de Hans Henny Jahnn. Tradução de Marcus Tulius Franco Morais.

Er war in der Tat sehr anspruchslos, wenig getrieben. Er beneidete seine Leute wegen der Ausschreitungen, die sie begingen. Er beneidete sie und bewunderte sie. Er kam selbst in den Häfen kaum aus seiner Kajüte heraus, außer, dass er Makler, Verlader, Händler in Geschäften aufsuchte. Zuweilen sagte er ein paar dunkle pessimistische Worte. Man behielt sie, weil sie ganz unvermutet von seinen Lippen kamen. „Wir mühen uns ein paar Jahrzehnte ab, jeder auf seine Weise. Eines Tages legen sie uns in einen Kasten und graben uns ein.“ Man antwortete ihm: „So ist es. “ Oder auch: „Es hat keinen Zweck, daran zu denken.“

Na verdade, Mov era bastante modesto, pouco ambicioso. Invejava sua tripulação pelos excessos perpetrados. Invejava-os e os admirava. Se dependesse dele, nem nos portos deixaria sua cabine, a menos que fosse atrás de corretores, estivadores e mercadores para as negociações. Às vezes dizia algumas palavras pessimistas. Ficavam na memória, pois saíam de sua boca inesperadamente: “Labutamos durante umas décadas, cada um à sua maneira. Um dia nos metem em uma caixa e nos enterram”. Respondiam-lhe: “As coisas são assim”. Ou mesmo: “De nada adianta pensar nisso”.

Er dachte auch nicht oft daran. Nur zuweilen, wenn er sich in seiner Koje ausstreckte, das Wetter auf dem Meere still war, oder draußen der abendliche Kai mit seinen elektrischen Lampen durch die Bullaugen hereinschwieg, der Lärm nur noch die Stimme eines betrunkenen Matrosen hatte, der Geruch von Tran, Heringen, faulem Obst und scharfem Käse mit einem lauen Abendwind eindrang – dann dachte er, dass er bald oder ein wenig später verschwinden würde, verschwinden, wie er gekommen. Dann wiederholte er sich: „Bis hierher bin ich gekommen. Das habe ich erreicht. Das war mein Ziel. Dafür bin ich auf die Schulen gegangen. Dafür habe ich alle Ängste der Examen auf mich genommen. Damit ich nicht vergesse, was ich erreicht habe, sind noch alle Knabenängste bei mir. Darum werde ich niemals ein ganzer Mann werden. Damit ich nicht vergesse, dass ich dies erreicht habe, dass ich diese Hütte bewohne, in dieser Koje ausgestreckt liege, dies Schiff führe, diese Mannschaft unter mir habe, die Heizer und die Gasten. Ob sie mir ansehen, dass ich ein halbwüchsiges Kind geblieben bin? Dass ich niemals auf ähnliche Weise wild bin, wie sie es sind? Dass ich meinen Grog nur trinke, weil andere Kapitäne es tun?“

Ele mesmo não pensava muito nisso. Só às vezes, espichado em seu beliche, se estivesse calmo o mar, se pelas vigias entrasse o silêncio vesperal do cais com suas lâmpadas elétricas, se o barulho não fosse mais do que a voz de um marujo embriagado, se o vento tépido da tarde trouxesse o cheiro de óleo de baleia, arenque, fruta podre, queijo ardido – então ele pensava que, mais cedo ou mais tarde, desapareceria, desapareceria como chegara. Depois repetia para si: “Cheguei até aqui. Eis o que alcancei. Esse era o meu objetivo. Por isso frequentei as escolas. Por isso suportei todo o medo dos exames. Para não me esquecer do que alcancei, guardei todos os medos da infância. Sendo assim, nunca me tornarei um homem pronto. Para não me esquecer de que cheguei até aqui, de que moro nesta cabine, fico espichado sobre este beliche, comando este navio e tenho sob os meus mandos esta tripulação, os foguistas e os marinheiros. Será que eles percebem que permaneci um adolescente? Que nunca sou bárbaro como eles? Que só bebo meu grogue porque outros capitães o fazem?”

Jahnn, Hans Henny. Mov. In: 13 nicht geheure Geschichten (1954). Hamburg: Hoffmann und Campe, 1995, S. 132-133.

Jahnn, Hans Henny. "Mov". In: Treze histórias singulares. [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. São João del-Rei: Ugrino, 2011, pp. 154-155. Tradução, posfácio e cronologia de Marcus Tulius Franco Morais.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Jahnn, Hans Henny. Treze histórias singulares [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. São João del-Rei: Ugrino, 2011. (13 nicht geheure Geschichten). Contos.

Wedekind, Frank. Mine-Haha ou Sobre a educação corporal das meninas [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. São Paulo: Luzes no Asfalto, 2009. (Mine-Haha oder Über die körperliche Erziehung der jungen Mädchen). Novela.

Beethoven, Ludwig van. "Cartas de Ludwig van Beethoven à Condessa Giulietta Guicciard". [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. Emerson Tin (org.). Para sempre: 50 cartas de amor de todos os tempos. São Paulo: Globo, 2009. Cartas.

Kafka, Franz. "Cartas de Kafka a sua noiva Felice Bauer". [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. Emerson Tin (org.). Para sempre: 50 cartas de amor de todos os tempos. São Paulo: Globo, 2009. Cartas.

Jahnn, Hans Henny. “O relojoeiro” [Por: Marcus Tulius Franco Morais], in: Baleia na Rede, Revista online do Grupo Pesquisa e Estudos em Cinema e Literatura, v. 1, n. 5, 2008. UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Marília. Conto.

http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/BaleianaRede/Edicao05/1-traducao.pdf

Jahnn, Hans Henny. A noite de chumbo [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. São João del-Rei: Ugrino, 2004. (Die Nacht aus Blei). Novela.

Roth, Joseph. A lenda do santo beberrão [Por: Marcus Tulius Franco Morais]. São João del-Rei: Ugrino, 2000. (Die Legende vom heiligen Trinker). Novela.

"Metamorfoses, poema de Gertrud Kolmar: uma tradução comentada" [Por: Marcus Tulius Franco Morais], in: Scientia Traductionis, Revista online do Programa de Pós- Graduação em Estudos da Tradução, n.13, 2013. UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. <https://periodicos.ufsc.br/index.php/scientia/article/view/30283>

Obra própria

 “Barriga de Fome, Banha de Macaco, Cacete Grosso / Quebra de tabu na primavera”. Marcus Tulius Franco Morais et al. Mine-Haha ou Sobre a educação corporal das meninas. São Paulo: Luzes no Asfalto, 2009. (Mine-Haha oder Über die körperliche Erziehung der jungen Mädchen). Posfácio.

“Mine-Haha: O teatro da simulação e do estímulo”. Marcus Tulius Franco Morais et al. Mine-Haha ou Sobre a educação corporal das meninas. São Paulo: Luzes no Asfalto, 2009. (Mine-Haha oder Über die körperliche Erziehung der jungen Mädchen). Posfácio.

“Da linguagem polifônica à questão religiosa – a cripta do prosador, dramaturgo, editor, arquiteto, organista e organeiro Hans Henny Jahnn”, in: Baleia na Rede, Revista online do Grupo Pesquisa e Estudos em Cinema e Literatura, v. 1, n. 5, 2008. UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Marília. (Artigo). <http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/BaleianaRede/Edicao05/1-traducao.pdf>

“Gertrud Kolmar: encanto, recolhimento e obliteração”, in: Revista 18, São Paulo, p. 52 - 54, 01 fev. 2007. (Artigo).

“Cultura judaica: das terras de Israel às ruas do Bom Retiro”, in: Baleia na Rede, Revista online do Grupo Pesquisa e Estudos em Cinema e Literatura, v. 1, n. 4, 2007. UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Marília. (Artigo).

“Lírica no Limbo – Poemas de Selma Meerbaum-Eisinger”, in: Revista 18, São Paulo, p. 50 - 53, 01 set. 2006. (Artigo).

"Descobrindo um tradutor brasileiro: entrevista com Marcus Tulius Franco Morais", in: Scientia Traductionis, Revista online do Programa de Pós- Graduação em Estudos da Tradução, n.13, 2013. UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. (Entrevista). <https://periodicos.ufsc.br/index.php/scientia/article/view/30282>

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