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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Lêdo Ivo

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Considerado uma figura de destaque na moderna literatura brasileira, Lêdo Ivo, poeta, romancista, ensaísta e jornalista, nasceu em Maceió, Alagoas, em 18 de fevereiro de 1924. Em sua cidade natal, concluiu os estudos primário e secundário, transferindo-se para a cidade de Recife, em 1940. Na capital pernambucana, iniciou suas atividades literárias colaborando na imprensa local e na convivência com o grupo literário do qual fazia parte Willy Lewin, crítico literário que teria grande importância em sua formação cultural. Em 1943, após concluir o curso complementar no Liceu Alagoano, em Maceió, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, anos mais tarde, em 1949, concluiu o curso de Direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, profissão que não exerceria em vida. Na mesma época, passou a colaborar em suplementos literários e a trabalhar como jornalista profissional na imprensa carioca e paulista como redator da Tribuna da Imprensa e da revista Manchete, além de colaborador de O Estado de São Paulo e editor do Correio da Manhã.

Representante da "Geração de 45", o poeta alagoano publicou seu primeiro livro de poesias, As imaginações, em 1944, e seu primeiro romance, As alianças, em 1947, livro que seria bem acolhido pela crítica. Dois anos depois, pronunciou, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP), a conferência Geração de 45, movimento de reação estética contra a primeira fase do modernismo brasileiro. Em 1953, foi viajar para a Europa, residindo em Paris, de onde retornou no ano seguinte, voltando às suas atividades literárias e jornalísticas.

Ainda durante os anos 40, e nas décadas subsequentes, passou a traduzir textos literários, sobretudo poesia, vertendo poemas de Maupassant e Rimbaud. Lêdo Ivo figura também como um dos poetas brasileiros contemporâneos mais traduzidos no exterior, tendo suas obras de poesia e prosa publicadas em vários países e em várias línguas como o inglês, dinamarquês, holandês, espanhol e italiano.

Em 1986, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, e pelo conjunto da obra recebeu inúmeros prêmios, dentre os quais se destacam: Prêmio de Romance, da Fundação Graça Aranha (1947), pelo seu romance de estreia, As alianças; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e Prêmio Luísa Cláudio de Sousa (poesia), do PEN Clube do Brasil, ambos em 1973, pelo livro Finisterra; Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras, pelo conjunto de suas obras; Prêmio Nacional de Ensaio, do Instituto Nacional do Livro (1983), por A ética da aventura; e Prêmio Jabuti (2001), da CBL, pelo livro O rumor da noite.

Atualmente é também membro efetivo da Academia Alagoana de Letras, da Academia Municipalista de Letras do Brasil, sócio honorário da Academia Petropolitana de Letras, além de sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

Verbete publicado em 22 de August de 2006 por:
Gleiton Lentz
Andréia Guerini

Excertos de traduções

Fragmento de O Adolescente, de Dostoiévski. Tradução de Lêdo Ivo:

Глава первая

Capítulo Primeiro

 

 

I.
I.

 

 

Не утерпев, я сел записывать эту историю моих первых шагов на жизненном поприще, тогда как мог бы обойтись и без того. Одно знаю наверно: никогда уже более не сяду писать мою автобиографию, даже если проживу до ста лет. Надо быть слишком подло влюбленным в себя, чтобы писать без стыда о самом себе. Тем только себя извиняю, что не для того пишу, для чего все пишут, то есть не для похвал читателя. Если я вдруг вздумал записать слово в слово все, что случилось со мной с прошлого года, то вздумал это вследствие внутренней потребности: до того я поражен всем совершившимся. Я записываю лишь события, уклоняясь всеми силами от всего постороннего, а главное - от литературных красот; литератор пишет тридцать лет и в конце совсем не знает, для чего он писал столько лет. Я - не литератор, литератором быть не хочу и тащить внутренность души моей и красивое описание чувств на их литературный рынок почел бы неприличием и подлостью. С досадой, однако, предчувствую, что, кажется, нельзя обойтись совершенно без описания чувств и без размышлений (может быть, даже пошлых): до того развратительно действует на человека всякое литературное занятие, хотя бы и предпринимаемое единственно для себя. Размышления же могут быть даже очень пошлы, потому что то, что сам ценишь, очень возможно, не имеет никакой цены на посторонний взгляд. Но все это в сторону. Однако вот и предисловие; более, в этом роде, ничего не будет. К делу; хотя ничего нет мудренее, как приступить к какому-нибудь делу, - может быть, даже и ко всякому делу.

Não podendo mais refrear-me, começo a escrever esta história de meus primeiros passos através da vida. E contudo poderia dispensar isto. Uma coisa é certa: mesmo que vivesse cem anos, jamais escreveria minha autobiografia. É preciso alguém estar muito ignobilmente apaixonado por si mesmo para exprimir-se sobre sua própria vida sem se envergonhar. A única desculpa que encontro, é que não escrevo pelo mesmo motivo que move as outras pessoas, isto é, para obter os elogios do leitor. Se me resolvi subitamente a alinhar palavra por palavra tudo o que me aconteceu desde o último ano, foi por uma necessidade interior: de tal modo me tocaram os fatos sucedidos! Limito-me a registrar os acontecimentos, evitando com todas as minhas forças o que lhes é estranho, e principalmente os artifícios literários; um literato escreve durante trinta anos seguidos, e por fim ignora por que escreveu tantos anos. Não sou um literato e não quero sê-lo. Espalhar no mercado literário a intimidade de minha alma e uma bela descrição de meus sentimentos seria para mim uma inconveniência e uma baixeza. Prevejo contudo, não sem desprazer, que será provavelmente impossível evitar por completo as descrições de sentimentos e as reflexões (talvez mesmo vulgares): uma vez que qualquer trabalho literário, mesmo quando empreendido unicamente para si mesmo, desmoraliza o homem! E estas reflexões podem mesmo ser bastante triviais, pois o que o leitor estima pode muito bem não ter valor nenhum para um estranho. Mas tudo isso seja dito entre parênteses. Eis meu prefácio pronto: não haverá mais nada deste gênero. Mãos à obra! se bem nada exista de mais penoso que empreender uma obra, e talvez mesmo realizar qualquer trabalho.

 

 

 

 

II.
II.

 

 

Я начинаю, то есть я хотел бы начать, мои записки с девятнадцатого сентября прошлого года, то есть ровно с того дня, когда я в первый раз встретил...

Começo, isto é, gostaria de começar minhas memórias no dia 19 de setembro do ano passado, precisamente no dia em que pela primeira vez encontrei...

Но объяснить, кого я встретил, так, заранее, когда никто ничего не знает, будет пошло; даже, я думаю, и тон этот пошл: дав себе слово уклоняться от литературных красот, я с первой строки впадаю в эти красоты. Кроме того, чтобы писать толково, кажется, мало одного желания. Замечу тоже, что, кажется, ни на одном европейском языке не пишется так трудно, как на русском. Я перечел теперь то, что сейчас написал, и вижу, что я гораздо умнее написанного. Как это так выходит, что у человека умного высказанное им гораздо глупее того, что в нем остается? Я это не раз замечал за собой и в моих словесных отношениях с людьми за весь этот последний роковой год и много мучился этим.

Mas explicar quem encontrei, assim de antemão, quando ninguém sabe de nada, será vulgar; mesmo este meu tom, creio, é vulgar: depois de ter jurado a mim mesmo evitar os ornamentos literários, eis que quebro meu juramento logo na primeira linha. Além disso, para escrever de maneira sensata, basta-me querê-lo. Salientarei ainda que não existe, acredito, uma língua européia tão difícil de se escrever quanto o russo. Acabo de reler o que escrevi agora, e vejo que sou muito mais inteligente do que isso que está aí escrito. Como se explica então que as coisas enunciadas por um homem inteligente sejam infinitamente rnais tolas que o que permanece em seu espírito? Já notei isso mais de uma vez em mim e em meu comércio oral com os outros homens durante todo este último ano fatal, e tal fato me atormentou bastante.

Я хоть и начну с девятнадцатого сентября, а все-таки вставлю слова два о том, кто я, где был до того, а стало быть, и что могло быть у меня в голове хоть отчасти в то утро девятнадцатого сентября, чтоб было понятнее читателю, а может быть, и мне самому.

Embora comece no dia 19 de setembro, direi no entanto em duas palavras quem sou, onde estive antes desta data e em seguida o que podia ter em mente, pelo menos parcialmente, naquela manhã de 19 de setembro, para que isto seja mais inteligível ao leitor, e talvez também a mim.

 

 

 

 

III.
III.

 

 

Я - кончивший курс гимназист, а теперь мне уже двадцать первый год. Фамилия моя Долгорукий, а юридический отец мой - Макар Иванов Долгорукий, бывший дворовый господ Версиловых. Таким образом, я - законнорожденный, хотя я, в высшей степени, незаконный сын, и происхождение мое не подвержено ни малейшему сомнению. Дело произошло таким образом: двадцать два года назад помещик Версилов (это-то и есть мой отец), двадцати пяти лет, посетил свое имение в Тульской губернии. Я предполагаю, что в это время он был еще чем-то весьма безличным. Любопытно, что этот человек, столь поразивший меня с самого детства, имевший такое капитальное влияние на склад всей души моей и даже, может быть, еще надолго заразивший собою все мое будущее, этот человек даже и теперь в чрезвычайно многом остается для меня совершенною загадкой. Но, собственно, об этом после. Этого так не расскажешь. Этим человеком и без того будет наполнена вся тетрадь моя.

Sou um antigo colegial, e tenho agora vinte e um anos de idade. Meu nome é Dolgorúkii, e meu pai legal chama-se Makár Ivánov Dolgorúkii, ex-servo doméstico dos senhores Versílov. Assim, sou filho legítimo, se bem que o seja ilegítimo no mais alto grau, e que minhas origens não causem a menor dúvida. Explico-me: há vinte e dois anos, o proprietário Versílov (e ele meu pai), com a idade de vinte e cinco anos, visitou seu domínio da província de Tula. Suponho que ele fosse naquela época uma criatura ainda bastante impessoal. É curioso como este homem que tanto me impressionou desde minha infância e que teve uma influência fundamental na formação de meu espírito e que talvez por muito tempo contaminou todo o meu futuro, permaneça para mim, ainda hoje, e numa infinidade de pontos, um verdadeiro enigma. Mas voltaremos a isso mais tarde. Não é fácil expor tal assunto. De qualquer modo, esse homem estará sempre presente neste livro.

Он как раз к тому времени овдовел, то есть к двадцати пяти годам своей жизни. Женат же был на одной из высшего света, но не так богатой, Фанариотовой, и имел от нее сына и дочь. Сведения об этой, столь рано его оставившей, супруге довольно у меня неполны и теряются в моих материалах; да и много из частных обстоятельств жизни Версилова от меня ускользнуло, до того он был всегда со мною горд, высокомерен, замкнут и небрежен, несмотря, минутами, на поражающее как бы смирение его передо мною. Упоминаю, однако же, для обозначения впредь, что он прожил в свою жизнь три состояния, и весьма даже крупные, всего тысяч на четыреста с лишком и, пожалуй, более. Теперь у него, разумеется, ни копейки...

Naquela época, aos vinte e cinco anos, ele acabava de perder sua mulher. Era uma moça da alta sociedade, mas não muito rica, pertencente à família Fanariótov, e lhe deixara um filho e uma filha. Meus dados a respeito dessa esposa tão cedo desaparecida, são bastante incompletos e se perdem no conjunto de meus elementos; além disso, muitas circunstâncias da vida de Versílov me escaparam, em vista de ele ter sido sempre, em relação a mim, orgulhoso, altivo, fechado e negligente, a despeito de uma espécie de humildade, às vezes espantosa. Menciono, contudo, a título de informação, que durante sua existência ele dissipou três fortunas, bastante grandes aliás, num total de mais de 400.000 rublos e talvez muito mais ainda. Agora, naturalmente, ele não possui mais um copeque...

Приехал он тогда в деревню "бог знает зачем", по крайней мере сам мне так впоследствии выразился. Маленькие дети его были не при нем, по обыкновению, а у родственников; так он всю жизнь поступал с своими детьми, с законными и незаконными. Дворовых в этом имении было значительно много; между ними был и садовник Макар Иванов Долгорукий. Вставлю здесь, чтобы раз навсегда отвязаться: редко кто мог столько вызлиться на свою фамилию, как я, в продолжение всей моей жизни. Это было, конечно, глупо, но это было. Каждый-то раз, как я вступал куда-либо в школу или встречался с лицами, которым, по возрасту моему, был обязан отчетом, одним словом, каждый-то учителишка, гувернер, инспектор, поп - все, кто угодно, спрося мою фамилию и услыхав, что я Долгорукий, непременно находили для чего-то нужным прибавить:

Ele veio então ao seu domínio, "Deus sabe porquê"; pelo menos foi assim que mais tarde se explicou comigo. Seus filhinhos não estavam com ele, mas na casa de seus pais, segundo seu hábito; e assim procedeu a vida inteira com a sua descendência, fosse legítima ou ilegítima. Havia nessa propriedade um bom número de domésticos, entre eles o jardinejro Makár Ivánov Dolgorúkii. Acrescentarei aqui, para não mais voltar ao assunto: poucas pessoas puderam amaldiçoar tanto o próprio nome quanto eu, durante minha existência inteira. Isto é estúpido, sem dúvida, mas é verdadeiro. Cada vez que ingressava em uma escola ou que me defrontava com pessoas que, em vista de minha idade, deveria tratar respeitosamente, como professor, preceptor, censor, sacerdote, não importa quem - bastava que se perguntasse meu nome e soubesse que eu era Dolgorúkii, para se experimentar o desejo de acrescentar:

- Князь Долгорукий?

- Príncipe Dolgorúkii?

И каждый-то раз я обязан был всем этим праздным людям объяснять:

E todas as vezes eu era obrigado a explicar a esses desocupados:

- Нет, просто Долгорукий.

- Não, simplesmente Dolgorúkii.

Это просто стало сводить меня наконец с ума. Замечу при сем, в виде феномена, что я не помню ни одного исключения: все спрашивали. Иным, по-видимому, это совершенно было не нужно; да и не знаю, к какому бы черту это могло быть хоть кому-нибудь нужно? Но все спрашивали, все до единого.

Este simplesmente acabou por enlouquecer-me. Salientarei, como uma espécie de fenômeno, que não me lembro de nenhuma exceção; todos me faziam a pergunta. Alguns, evidentemente, formulavam-na sem o menor interesse; além do mais não sei de que modo isso podia interessar a quem quer que fosse. Mas todos perguntavam, todos, até o último.

Услыхав, что я просто Долгорукий, спрашивавший обыкновенно обмеривал меня тупым и глупо-равнодушным взглядом, свидетельствовавшим, что он сам не знает, зачем спросил, и отходил прочь. Товарищи-школьники спрашивали всех оскорбительнее. Школьник как спрашивает новичка? Затерявшийся и конфузящийся новичок, в первый день поступления в школу (в какую бы то ни было), есть общая жертва: ему приказывают, его дразнят, с ним обращаются как с лакеем. Здоровый и жирный мальчишка вдруг останавливается перед своей жертвой, в упор и долгим, строгим и надменным взглядом наблюдает ее несколько мгновений. Новичок стоит перед ним молча, косится, если не трус, и ждет, что-то будет.

Ao saber que eu era simplesmente Dolgorúkii, o interlocutor me media quase sempre com um olhar rude e tolamente indiferente, testemunhando não saber ele mesmo por que me interrogara, e ia embora. Porém os mais injuriosos eram os colegas de escola. Como um colegial interroga um novato? O calouro, desvairado e confuso, em seu primeiro dia de ingresso na escola (em qualquer escola) é o bode expiatório geral: dão-lhe ordens, importunam-no, tratam-no como se ele fosse um criado. Um rapazote gordo e cheio de saúde planta-se de súbito diante de sua vítima, fitando-a bem no rosto, e a observa alguns instantes com um olhar severo e insolente. O novato fica em silêncio, observando obliquamente, se não for um covarde, e espera os acontecimentos.

- Как твоя фамилия?

- Como te chamas?

- Долгорукий.

- Dolgorúkii.

- Князь Долгорукий?

- Príncipe Dolgorúkii?

- Нет, просто Долгорукий.

- Não, simplesmente Dolgorúkii.

- А, просто! Дурак.

- Ah!... simplesmente! Idiota!

И он прав: ничего нет глупее, как называться Долгоруким, не будучи князем. Эту глупость я таскаю на себе без вины. Впоследствии, когда я стал уже очень сердиться, то на вопрос: ты князь? всегда отвечал:

E tem razão: nada de mais tolo do que alguém chamar-se Dolgorúkii sem ser príncipe. Esta tolice, eu a carrego comigo sem que me caiba a culpa. Mais tarde, quando comecei a aborrecer-me seriamente com a pergunta: - "Tu és príncipe?" eu respondia sempre:

- Нет, я - сын дворового человека, бывшего крепостного.

- Não, sou filho de um empregado, antigo servo.

Потом, когда уж я в последней степени озлился, то на вопрос: вы князь? твердо раз ответил:

Mais tarde ainda, quando fiquei finalmente enfurecido com a pergunta: "Você é um príncipe?" respondi firmemente certo dia:

- Нет, просто Долгорукий, незаконный сын моего бывшего барина, господина Версилова.

- Não, Dolgorúkii simplesmente, filho natural do meu antigo senhor, Versílov.

Я выдумал это уже в шестом классе гимназии, и хоть вскорости несомненно убедился, что глуп, но все-таки не сейчас перестал глупить. Помню, что один из учителей - впрочем, он один и был - нашел, что я "полон мстительной и гражданской идеи". Вообще же приняли эту выходку с какою-то обидною для меня задумчивостью. Наконец, один из товарищей, очень едкий малый и с которым я всего только в год раз разговаривал, с серьезным видом, но несколько смотря в сторону, сказал мне:

Este achado feito por mim trazia a marca de eloqüente afetação e, apesar de cedo convencer-me de que era uma tolice, não renunciei a ele imediatamente. Lembro-me de que um dos professores - era, aliás, o único - descobriu que eu estava "cheio de idéias de vingança e de civismo". De modo geral, esta minha saída foi acolhida com uma seriedade um pouco ofensiva para mim. Por fim, um dos meus colegas, um rapazinho bem mordaz e com quem eu conversava apenas uma vez por ano, disse-me com um ar profundo, mas olhando ligeiramente de lado:

- Такие чувства вам, конечно, делают честь, и, без сомнения, вам есть чем гордиться; но я бы на вашем месте все-таки не очень праздновал, что незаконнорожденный... а вы точно именинник!

- Estes sentimentos só fazem honrá-lo, decerto, e, sem nenhuma dúvida, você tem de que se orgulhar. Entretanto, em seu lugar, eu não me envaideceria tanto de ser filho natural... Dir-se-ia que você, realmente, está festejando isso!

С тех пор я перестал хвалиться, что незаконнорожденный.

Desde então, deixei de vangloriar-me de minha ilegitimidade.

Повторю, очень трудно писать по-русски: я вот исписал целых три страницы о том, как я злился всю жизнь за фамилию, а между тем читатель наверно уж вывел, что злюсь-то я именно за то, что я не князь, а просто Долгорукий. Объясняться еще раз и оправдываться было бы для меня унизительно.

Repito-o: é muito difícil escrever em russo; já enegreci três folhas para explicar como imprequei a vida inteira contra meu nome, e o leitor decerto já concluiu que me enraivece o fato de não ser príncipe, mas apenas Dolgorúkii. Não me humilharei mais uma vez, explicando-me e justificando-me.

Достоевский, Ф. М. Подросток. Год: 1875. Disponível em: http://lib.ru

Dostoiévski, Fiódor. O adolescente. [Por: Lêdo Ivo]. São Paulo: Global, 1983, pp. 3-7.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Austen, Jane. A abadia de Northanger. [Por: Lêdo Ivo]. Rio de Janeiro: Panamericana, 1944. (Northanger Abbey)

Dostoiévski, Fiódor. O adolescente. [Por: Lêdo Ivo]. São Paulo: Global, 1983. (Подросток)

Maupassant, Guy de. Nosso coração. [Por: Lêdo Ivo]. São Paulo: Martins, 1953. (Notre coeur)

Maupassant, Guy de. Luisa La Roche/O Horla. [Por: Lêdo Ivo; Lauro de Almeida]. São Paulo: Martins, 1956. (Le petite Roche & Le horla)

Rimbaud, Arthur. Uma temporada no inferno e Iluminações. [Por: Lêdo Ivo]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957. (Une saison en enfer & Les Illuminations)

Tolstói, Leon. Katia. [Por: Lêdo Ivo]. Rio de Janeiro: Panamericana, 1944.

Obra própria

Poesia

Ivo, Lêdo. As imaginações. Rio de Janeiro: Pongetti, 1944.

Ivo, Lêdo. Acontecimento do soneto. Barcelona: O Livro Inconsútil, 1948.

Ivo, Lêdo. Ode ao crepúsculo. Rio de Janeiro: Pongetti, 1948.

Ivo, Lêdo. Linguagem (1949-1951). Rio de Janeiro: José Olympio,1951.

Ivo, Lêdo. Ode equatorial. Niterói: Hipocampo, 1951.

Ivo, Lêdo. Magias. Rio de Janeiro: Agir, 1960.

Ivo, Lêdo. Uma lira dos vinte anos. Rio de Janeiro: São José, 1962.

Ivo, Lêdo. Estação central. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: 1964.

Ivo, Lêdo. Antologia Poética. Rio de Janeiro:Leitura, 1965.

Ivo, Lêdo. 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1966.

Ivo, Lêdo. O flautin e outras histórias cariocas. Rio de Janeiro: Bloch, 1966.

Ivo, Lêdo. Linguagem [poemas]. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1966.

Ivo, Lêdo. Ode e elegia. Rio de Janeiro: Orfeu, 1967.

Ivo, Lêdo. Um brasileiro em Paris e O rei da Europa. Rio de Janeiro: Orfeu, 1968.

Ivo, Lêdo. Cântico. Rio de Janeiro: Orfeu, 1969.

Ivo, Lêdo. Finisterra. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.

Ivo, Lêdo. O sinal semafórico. Rio de Janeiro: José Olympio/INL, 1974.

Ivo, Lêdo. Central poética: poemas escolhidos. Rio de Janeiro/Brasília: Nova Aguilar/INL, 1976.

Ivo, Lêdo. Confissões de um poeta. São Paulo/Brasília: DIFEL/INL, 1979.

Ivo, Lêdo. O soldado raso. Recife: Edições Pirata, 1980.

Ivo, Lêdo. A noite misteriosa. Rio de Janeiro: Record, 1982.

Ivo, Lêdo. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1983.

Ivo, Lêdo. Calabar. Rio de Janeiro: Record, 1985.

Ivo, Lêdo. Mar oceano. Rio de Janeiro: Record, 1987.

Ivo, Lêdo. Cem sonetos de amor. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.

Ivo, Lêdo. Crepúsculo civil. Rio de Janeiro: Record, 1990.

Ivo, Lêdo. O aluno relapso. São Paulo: Massao Ohno, 1991.

Ivo, Lêdo. Curral de peixe. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.

Ivo, Lêdo. O rumor da noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

Ivo, Lêdo. Lêdo Ivo: melhores poemas. São Paulo: Global, 2001.

Ivo, Lêdo. Antologia poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

Ivo, Lêdo. Cem poemas de amor. São Paulo: Escrituras, 2004.

Ivo, Lêdo. Plenilúnio. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.

Ivo, Lêdo. Poesia completa. (1940-2004). Rio de Janeiro: Braskem/Topbooks, 2004.

Romance

Ivo, Lêdo. As alianças. Rio de Janeiro: Agir, 1947.

Ivo, Lêdo. O caminho sem aventura. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1958.

Ivo, Lêdo. Use a passagem subterrânea. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1961. Contos

Ivo, Lêdo. O sobrinho do general. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

Ivo, Lêdo. Ninho de cobras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.

Ivo, Lêdo. O navio adormecido no bosque. São Paulo: Duas Cidades/INL, 1977.

Ivo, Lêdo. A morte do Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1984.

Ivo, Lêdo. Use a passagem subterrânea e outras histórias. Rio de Janeiro: Record, 1984.

Ivo, Lêdo. 10 contos escolhidos. Brasília: Horizonte/INL, 2001.

Ivo, Lêdo. Os melhores contos. São Paulo: Global, 2001.

Infantil

Ivo, Lêdo. O menino da noite. São Paulo: Nacional, 1984.

Ivo, Lêdo. O canário azul. São Paulo: Scipione, 1990.

Ivo, Lêdo. Um domingo perdido. São Paulo: Global, 1998.

Ivo, Lêdo. O rato da sacristia. São Paulo: Global, 2000.

Ensaios e crônicas

Ivo, Lêdo. Lição de Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1951.

Ivo, Lêdo. O preto no branco. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1955.

Ivo, Lêdo. O girassol às avessas. Rio de Janeiro: Associação Brasileira do Congresso pela Liberdade da Cultura, 1960.

Ivo, Lêdo. Paraísos de papel. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1961.

Ivo, Lêdo. Ladrão de flor. Rio de Janeiro: Elos, 1963.

Ivo, Lêdo. Rio, a cidade e os dias. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965. Crônicas

Ivo, Lêdo. Poesia observada. Rio de Janeiro: Orfeu, 1967.

Ivo, Lêdo. Modernismo e modernidade. Rio de Janeiro: Olímpica, 1972.

Ivo, Lêdo. Teoria e celebração. São Paulo: Duas Cidades/Secretaria da Cultura, 1976.

Ivo, Lêdo. Estados de Alagoas. Rio de Janeiro: Bloch, 1976.

Ivo, Lêdo. Alencar e o romance poemético. São Paulo: [s.n.], 1976.

Ivo, Lêdo. A ética da aventura. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

Ivo, Lêdo. A república das desilusões. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.

Ivo, Lêdo. O universo poético de Raul Pompéia. Rio de Janeiro: ABL, 1996.

Ivo, Lêdo. Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 2004. Crônicas

Obra própria traduzida

Ivo, Lêdo. Oda al crepusculo. [Por: Manuel Nuñez Nava]. Mexico: Revista Cartapacios, nº 2, julio 1979. (Ode ao crepúsculo)

Ivo, Lêdo. La imaginaria ventana abierta. [Por: Carlos Montemayor]. Mexico: Premia, 1980.

Ivo, Lêdo. Snake's nest. [Por: Peter Poulsen]. New York, 1981. (Ninho de cobras)

Ivo, Lêdo. Poemas. [Por: Pedro Cateriano]. Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1982.

Ivo, Lêdo. Slangeboet: eller en darligt fortalt historie. [Por: Peter Poulsen]. Kobenhavn: Vindrose, 1884. (Ninho de cobras)

Ivo, Lêdo. Las islas inacabadas. [Por: Maricela Teran]. Mexico: Universidad Nacional Autonoma de Mexico, 1985.

Ivo, Lêdo. Las pistas. [Por: Stefan Baciu]. Xalapa: Papel de Envolver/Universidad Veracruzana, 1986.

Ivo, Lêdo. Ledo Ivo: material de lectura. [Por: Hector Carreto]. Mexico: Universidad Nacional Autonoma de Mexico, 1988.

Ivo, Lêdo. Snake's nest, or, A tale badly told. [Por: Kern Kraphol]. New York: A New Direction Book, 1989. (Ninho de cobras)

Ivo, Lêdo. La moneda perdida. [Por: Amador Palacios]. Zaragoza: Olifante, 1990.

Ivo, Lêdo. Landsend: selected poems. [Por: Kerry Shawn Keys]. New York: Pine Press, 1998.

Ivo, Lêdo. Vleermuizen en blauwe Krabben. [Por: August Willemsen]. Sliedrecht: Wagner; Van Santen, 2000. (Morcegos e goiamuns)

Ivo, Lêdo. Illuminazioni. [Por: Vera Lúcia de Oliveira]. Salerno: Multimedia, 2001.

Ivo, Lêdo. Los murciélagos. [Por: Marcela Terán; Adán Méndez]. Santiago: Chile-poesía, 2005. (Morcegos)

Sobre o autor

Labirinto de águas: imagens literárias e bibliográficas de Lêdo Ivo. In: Leda Almeida (Org.). Maceió: Catavento, 2002.

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