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Dicionário de tradutores literários no Brasil


José Geraldo Vieira

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Escritor, tradutor, médico e político, José Geraldo Manuel Germano Correia Vieira Drummond Machado da Costa Fortuna, descendente em linha paterna dos quatro condes da Feiteira e Terra Chã, nos Açores, nasceu no Rio de Janeiro, a 16 de abril de 1897. Dedicou-se – ativa e incansavelmente – a atividades no campo artístico-literário, principalmente entre 1944 e 1971. Suas traduções de James Joyce para o português brasileiro influenciaram as obras de sua autoria.

José Geraldo Vieira formou-se em medicina, dedicando-se especialmente à análise radiológica. No campo das Letras, exerceu com êxito a função de jornalista e crítico de arte junto à Folha de São Paulo. Paralelamente, atuou como professor de ensino superior na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Seu poema em prosa, intitulado: O Triste Epigrama, publicado em 1920, evidencia a marcante influência de Balada do Cárcere, de Oscar Wilde, sobre seu trabalho, tendo definido sua estreia na literatura. Nesta composição, elaborada à aura cores épicas, um homem solitário, cuja memória progressivamente se esvanece, perambula atordoado em cenas urbanas, oscilando entre a demência e a razão, porém em diálogo constante com diferentes deuses propõe reflexões como a seguinte:

Quem foi feliz atire às ondas o seu anel,
para que o olhar dos deuses continue desviado para longe...

No plano político, integrou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), participando ativamente nas discussões sobre as propostas daquele modelo ideológico. Com efeito, José Geraldo Vieira visava assumir o cargo de deputado federal nas eleições de 1947. Todavia, após as eleições, em 7 de maio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o registro do Partido Comunista, assim como declarou extintos, em 10 de janeiro de 1948, todos os mandatos do PCB. Como Jorge Amado, sentia as restrições impostas aos simpatizantes daquela corrente política.

Apesar de ter traduzido trabalhos de autores proeminentes como Albert Schweitzer, Alphonse Daudet, Bertrand Russell, Dostoievski, Emil Ludwig, Erskine Caldwell, François Mauriac, Hemingway, Mark Twain, Mika Waltari, Níkos Kazantzákis, Pirandello, Stendhal, Thomas Merton e Tolstoi, a invisibilidade do tradutor, muito comum à sua época, não permite localizar seu nome em grande número dos trabalhos de tradução a ele atribuídos.

José Geraldo Vieira assumiu a cadeira de número 39 da Academia Paulista de Letras, anteriormente ocupada por Monteiro Lobato. Na década de 1950, assumiu a função de membro titular da Bienal de São Paulo.  Como escritor, distinguiu-se pela publicação de romances que abordavam conflitos nacionais em ambientes urbanos, mas sempre à luz de orientações internacionais e cosmopolitas. Suas aventuras ficcionais muitas vezes aludem a representações clássicas de uma burguesia culta e abastada, inspirada na belle époque parisiense, dedicada à busca por valores.

Críticos literários de sua época consideravam-no como um dos maiores ficcionistas contemporâneos, comparando seus escritos ao trabalho do escritor argentino de literatura fantástica Adolfo Bioy Casares (1914-1999), autor de La Invención de Morel (1940). Ao longo dos seus mais de 40 anos de carreira, dedicou-se a diferentes gêneros literários, incluindo poesia, memórias, romance, ensaio e biografia. José Geraldo Vieira faleceu aos 80 anos, em São Paulo no ano de 1977.

Para saber mais sobre o tradutor, recomenda-se a leitura da dissertação de mestrado de Márcia Aparecida Garcia, publicada pela Faculdade de Ciências e Letras, da UNESP em 2003, sob a orientação do Prof. Dr. José Carlos Zamboni. 

Verbete publicado em 17 de April de 2023 por:
Brenda Bressan Thomé
Juliana Oliveira de Oliveira
Marie-Hélène Catherine Torres

Excertos de traduções

Excerto de Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce. Tradução de José Geraldo Vieira.

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His monstrous reveries came thronging into his memory. They too had sprung up before him, suddenly and furiously, out of mere words. He had soon given in to them and allowed them to sweep across and abase his intellect, wondering always where they came from, from what den of monstrous images, and always weak and humble towards others, restless and sickened of himself when they had swept over him.

Seus monstruosos pesadelos voltaram, amontoando-se em sua memória, e eram bem mais do que meras palavras. Dera-lhes incontinente entrada e lhes permitira vasculharem e aviltarem o seu intelecto, sem que soubesse donde tinham vindo, de qual antro de monstruosas imagens, e sempre frágeis, e humildes para com os outros, inquietando-o e maltratando-o ao se apoderarem dele.

 

 

 

 

Joyce, James. Retrato do Artista Quando Jovem. [Por: José Geraldo Vieira]. Editoras Ediouro e Publifolha, 1998, p. 95.

Bibliografia

Traduções Publicadas

D'ALESSIO, Carla. Epíscopo & cia. [Por: José Geraldo Vieira]. Rio de Janeiro: Pongetti, 1943. Romance/literatura italiana.

DOSTOIEVSKI, Fiodor. Obras completas e ilustradas. [Por: José Geraldo Vieira]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967. Romance/ensaio/literatura russa.

FOGAZZARO, Antonio. Pequeno Mundo Antigo. [Por: José Geraldo Vieira]. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1949. (Piccolo mondo antico). Romance/literatura italiana.

HEMINGWAY, Ernest. Do outro lado do rio, entre as árvores. [Por: José Geraldo Vieira]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985. (Across the River and Into the Trees). Romance/literatura estadunidense.

JOYCE, James. Retrato do artista quando jovem. [Por: José Geraldo Vieira]. São Paulo: Abril Cultural, 1971. (A Portrait of the Artist as a Young Man). Romance/literature irlandesa.

MAURIAC, François. Galigai/Destinos. [Por: José Geraldo Vieira]. Rio de Janeiro: Mérito, 1953. (Galigaï e Destins). Romance/literatura francesa.

MERTON, Thomas. A Montanha dos Sete Patamares. [Por: José Geraldo Vieira]. Rio de Janeiro: Mérito, 1956. (The Seven Storey Mountain). Biografia/autobiografia.

PIRANDELLO, Luigi. A excluída. [Por: José Geraldo Vieira]. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1949. (L’esclusa). Romance/literatura italiana.

PIRANDELLO, Luigi. A Excluída. [Por: José Geraldo Vieira]. São Paulo: Abril Cultural, 1986. (L’esclusa). Romance/literatura italiana.

PIRANDELLO, Luigi. Os velhos e os moços. [Por: José Geraldo Vieira]. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1947. (I vecchi i giovanni). Romance/literatura italiana.

STENDHAL. A cartuxa de Parma. [Por: José Geraldo Vieira]. 2 vols. Abril Cultural, 1994. (La Chartreuse de Parme). Romance/literatura francesa.

STENDHAL. O Vermelho e o Negro. [Por: José Geraldo Vieira]. 2 vols. Rio de Janeiro: Difusão Europeia do Livro, 1965. (Le rouge et le Noir). Romance/literatura francesa. 

 

 

Obra própria

VIEIRA, José Geraldo. A ladeira da memória. São Paulo: Livraria Martins,1950. Romance.

VIEIRA, José Geraldo. A mais que branca. São Paulo: Melhoramentos, 1975. Romance.

VIEIRA, José Geraldo. A mulher que fugiu de Sodoma. Rio de Janeiro: Schmidt Editor, 1931. Romance.

VIEIRA, José Geraldo. A quadragésima porta. Rio de Janeiro: Globo, 1943. Romance;

VIEIRA, José Geraldo. A ronda do deslumbramento. [S.l.]: Empreza Brasil, 1922. Contos.

VIEIRA, José Geraldo. A túnica e os dados. Rio de Janeiro: Globo, 1947. Capa de Clóvis Graciano. Romance;

VIEIRA, José Geraldo. Carta a minha filha em prantos. São Paulo: Brasiliense, 1946. Romance/carta.

VIEIRA, José Geraldo. Mansarda acesa. São Paulo: Academia Paulista de Letras. 1975. Poesia.

VIEIRA, José Geraldo. O Albatroz. [S.l]: Clube do livro, 1962. Romance.

VIEIRA, José Geraldo. Paralelo 16: Brasília. São Paulo: Livraria Martins, 1966. Romance.

VIEIRA, José Geraldo.Terreno baldio. São Paulo: Livraria Martins, 1961. Romance.

VIEIRA, José Geraldo. Território humano. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936. Romance.

VIEIRA, José Geraldo. Triste epigrama. [S.l]: Empreza Brasil, 1920. Poesia. 

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ISBN:   85-88464-07-1

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