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Dicionário de tradutores literários no Brasil


José Geraldo Couto

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

O escritor, tradutor, jornalista e crítico de cinema José Geraldo Couto nasceu em 1957 em Jaú, São Paulo. Graduado em Jornalismo e em História pela Universidade de São Paulo (USP) em 1979 e em 1984, respectivamente, trabalhou por mais de vinte anos na Folha de S. Paulo, na qual foi redator e editor-assistente do caderno Cotidiano, redator e editor-assistente do caderno Mais!, repórter do caderno Ilustrada, articulista e colunista. Entre 1987 e 1990, foi redator e editor-assistente da revista Set. Colaborou regularmente com as revistas Carta Capital e Bravo!, além de manter uma coluna de cinema no blog do Instituto Moreira Salles (IMS)

O autor estreou na literatura com o livro André Breton: a transparência do sonho (1984), publicando ainda Brasil anos 60 (1987) e O futebol brasileiro hoje (2009), entre outros. Escreveu artigos, ensaios e críticas para os livros O cinema dos anos 80 (1991), Folha conta 100 anos de cinema (1995) e Os filmes que sonhamos (2011), entre outros.

Como tradutor, José Geraldo Couto trabalha com as línguas inglesa e espanhola. Sua tradução mais recente publicada, Os afetos, do escritor boliviano Rodrigo Hasbún, é de 2016. Desde o início dos anos 2000, José Geraldo Couto já traduziu mais de 30 obras de diversos autores como Edward Said (1935-2003) e Norman Mailer (1923-2007), conciliando o trabalho com atividades de jornalista, crítico e pesquisador de cinema.

Verbete publicado em 12 de December de 2016 por:
Leomaris Aires
Andréia Guerini

Excertos de traduções

Fragmento de Fora do lugar, de Edward W. Said. Tradução de José Geraldo Couto.

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All families invent their parents and children, give each of them a story, character, fate, and even a language. There was always something wrong with how I was invented and meant to fit in with the world of my parents and four sisters. Whether this was because I constantly misread my part or because of some deep flaw in my being I could not tell for most of my early life. Sometimes I was intransigent, and proud of it. At other times I seemed to myself to be nearly devoid of any character at all, timid, uncertain, without will. Yet the overriding sensation I had was of always being out of place. Thus it took me about fifty years to become accustomed to, or, more exactly, to feel less uncomfortable with, Edward, a foolishly English name yoked forcibly to the unmistakably Arabic family name Said. True my mother told me that I had been named Edward after the Prince of Wales, who cut so fine a figure in 1935, the year of my birth, and Said was the name of various uncles and cousins. But the rationale of my name broke down both when I discovered no grandparents called Said and when I tried to connect my fancy English name with its Arabic partner. For years, and depending on the exact circumstances, I would rush past "Edward" and emphasize "Said"; at other times I would do the reverse, or connect these two to each other so quickly that neither would be clear. The one thing I could not tolerate, but very often would have to endure, was the disbelieving, and hence undermining, reaction: Edward? Said?

Todas as famílias inventam seus pais e filhos, dão a cada um deles uma história, um caráter, um destino e até mesmo uma linguagem. Sempre houve algo errado com o modo como fui inventado e destinado a me encaixar no mundo de meus pais e de minhas quatro irmãs. Se isso ocorreu porque constantemente interpretei mal meu papel ou por causa de uma falha profunda no meu ser, é algo que não sei dizer no que se refere à maior parte da minha infância. Às vezes eu era intransigente, e sentia orgulho disso. Outras vezes parecia a mim mesmo quase desprovido de qualquer caráter. Tímido, inseguro, sem vontade. Contudo, minha sensação predominante era a de sempre estar fora do lugar. Por conta disso, levai quase cinquenta anos para me acostumar, ou, mais exatamente, para me sentir menos desconfortável, com “Edward”, um nome ridiculamente inglês atrelado à força ao sobrenome inequivocamente árabe Said. Verdade que minha mãe me explicou que eu havia recebido o nome de Edward em homenagem ao príncipe de Gales, que fazia bela figura em 1935, ano de meu nascimento, e que Said era o nome de vários tios e primos. Mas os fundamentos racionais do meu nome desabaram quando descobri que nenhum de meus avós se chamava Said e também quando tentei combinar meu extravagante nome inglês com seu parceiro árabe. Durante anos, dependendo das circunstâncias específicas, eu pronunciava rapidamente o “Edward” e enfatizava o “Said”; em outras ocasiões, fazia o contrário, ou então juntava um nome no outro de modo tão rápido que nenhum dos dois soava claro. A única coisa que não podia tolerar, mas que muitas vezes fui obrigado a sofrer, era a reação descrente e, por conta disso, desalentadora: Edward? Said?

Said, Edward W. Out of place. New York: Vintage Books, 1999. p. 3-4.

Said, Edward W. Fora do lugar. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 7-8.

Fragmento de O sonho dos heróis, de Adolfo Bioy Casares. Tradução de José Geraldo Couto

A lo largo de tres días y de tres noches del carnaval de 1927 la vida de Emilio Gauna logró su primera y misteriosa culminación. Que alguien haya previsto el terrible término acordado y, desde lejos, haya alterado el fluir de los acontecimientos, es un punto difícil de resolver. Por cierto, una solución que señalara a un oscuro demiurgo como autor de los hechos que la pobre y presurosa inteligencia humana vagamente atribuye al destino, más que una luz nueva añadiría un problema nuevo. Lo que Gauna entrevió hacia el final de la tercera noche llego a ser para él como un ansiado objetco mágico, obtenido y perdido en una prodigiosa aventura. Indagar esa experiencia, recuperarla, fue en los años inmdiatos la conversada tarea que tanto lo desacreditó ante los amigos.

Ao longo de três dias e três noites do carnaval de 1927 a vida de Emilio Gauna atingiu sua primeira e misteriosa culminação. Que alguém tenha previsto o terrível fim designado e, de longe, tenha alterado o fluir dos acontecimentos é um ponto difícil de resolver. Por certo, uma solução que indicasse um obscuro demiurgo como autor dos fatos que a pobre e apressada inteligência humana vagamente atribui ao destino, mais que uma luz nova, acrescentaria um problema novo. O que Gauna entreviu perto do final da terceira noite chegou a ser para ele como um ansiado objeto mágico, obtido e perdido numa prodigiosa aventura. Indagar essa experiência, recuperá-la, foi nos anos seguintes a manifesta tarefa que tanto o desacreditou diante dos amigos.

Los amigos se reunían todas las noches en el café Platense, en Iberá y Avenida del Tejar, y, quando no los acompañaba el doctor Valerga, maestro y modelo de todos ellos, hablaban de fútbol. Sebastián Valerga, hombre parco en palabras y propenso a la afonía, conversaba sobre el turf – “sobre las palpitantes competencias de los circos de antaño” –, sobre política y sobre coraje. Gauna, de vez en cuando, hubiera comentado los Hudson y los Studebaker, las quinientas millas de Rafaela o el Audax, de Córdoba, pero, como a los otros no les interesaba el tema, debía callarse. Esto le confería una suerte de vida interior. El sábado o el domingo veían jugar a Platense. Algunos domingos, si tenían tiempo, pasaban por la casi marmórea confitería Los Argonautas, com el pretexto de reírse un poco de las muchachas.

Os amigos se reuniram todas as noites no café Platense, na esquina da Iberá com a Avenida del Tejar e, quando não estavam acompanhados pelo doutor Valerga mestre e modelo de todos eles, falavam de futebol. Sebastián Valerga, homem parco em palavras e propenso à afonia, conversava sobre turfe – “sobre as palpitantes competições dos circos de outrora” -, sobre política e sobre coragem. Gauna, de vez em quando, teria comentado os Hudson e os Studebaker, as Quinhentas Milhas de Rafaela1 ou o Audax, de Córdoba, mas, como o assunto não interessava aos outros, devia ficar calado. Isso lhe conferia uma espécie de vida interior. No sábado ou no domingo viam a Platense jogar. Em alguns domingos, quando tinham tempo, passavam pela quase marmórea confeitaria Los Argonautas, com o pretexto de rir um pouco das garotas.

Gauna acababa de cumplir veintiún años. Tenía el pelo oscuro y crespo, los ojos verdosos; era delgado, estrecho de hombros. Hacía dos o tres meses que había llegado al barrio. Su familia era de Tapalqué: pueblo del que recordaba unas calles de arena y la luz de las mañanas en que paseaba con un perros llamado Gabriel.

Gauna acabara de completar vinte e um anos. Tinha o cabelo escuro e crespo, os olhos esverdeados; era magro, de ombros estreitos. Fazia dois ou três meses que havia chegado ao bairro. Sua família era de Tapalqué: povoado do qual recordava umas ruas de areia e a luz das manhãs em que passeava com um cão chamado Gabriel.

 

 

 

1. Quinhentas Milhas de Rafaela: tradicional corrida automobilística realizada na cidade de Santa Fé, na província homônima, a 530 km de Buenos Aires. Desde 1926 já houve 37 edições da Prova. (N.T.)

 

 

Casares, Adolfo Bioy. El sueño de los heroes. Buenos Aires: Ediciones Nuevo Siglo, 1995.

Casares, Adolfo Bioy. O sonho dos heróis. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Coisac Naify, 2008. p. 5-6.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Ballard, J. G. Crash. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (Crash). Romance.

Ballard, J. G. O reino do amanhã. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. (Kingdom Come). Romance.

Bellow, Saul. Henderson, o rei da chuva. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. (Henderson, the rain king). Romance.

Bellow, Saul. Herzog. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. (Herzog). Romance.

Casares, Adolfo Bioy. Histórias Fantásticas. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2006. (Historias Fantásticas). Contos.

Casares, Adolfo Bioy. Diário da Guerra do Porco. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2010. (Diario de la Guerra del Cerdo). Romance.

Casares, Adolfo Bioy. O sonho dos heróis. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2008. (El sueño de los héroes). Romance.

Clark, T. J. A pintura da vida moderna. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. (The painting of modern life). Crítica.

Cunningham, Michael. Dias exemplares. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. (Specimen days). Romance.

Darnton, Robert. Os dentes falsos de George Washington. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (George Washington´s false teeth). Artigo.

Demick, Barbara. Nada a invejarvidas comuns na Coreia do Norte. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. (Nothing to envy). Romance.

Fox, Paula. Os filhos da viúva. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. (The widow´s children). Romance.

Gourevitch, Philip. Gostaríamos de informá-lo que amanhã seremos mortos com nossas famílias. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. (We wish to inform you that tomorrow we will be killed with our families). Reportagem.

Hasbún, Rodrigo. Os afetos. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Intrínseca, 2016. (Los afectos). Romance.

Huntford, Roland. O último lugar da terra. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. (The last place on earth). Romance.

Hutchins, Scott. Uma teoria provisória do amor. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. (A working theory of love). Romance.

James, Henry. A fera na selva. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2007. (The beast in the jungle). Novela.

Mailer, Norman. O super-homem vai ao supermercado. [Por: José Geraldo Couto e Sergio Flaksman]. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. (Some honorable men: political conventions (1960-1972)). Reportagem.

Manguel, Alberto. Os livros e os dias um ano de leituras prazerosas. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 200e. (Reading Diary). Romance.

Mason, Paul. Pós-Capitalismo um guia para o nosso futuro. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. (Postcapitalism). Economia | Ficção.

Millard, Candice. O rio da dúvida A sombria viagem de Theodore Roosevelt e Rondon pela Amazônia. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (The River of Doubt). Romance.

Moser, Benjamin. Clarice,. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2009. (Why this world). Biografia.

Remnick, David. O túmulo de Lênin. Os últimos dias do Império Soviético. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. (Lenin’s tomb: the last days of the Soviet Empire). Reportagem.

Said, Edward W. Fora do lugar. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (Out of Place). Memórias.

Saunders, George. Dez de dezembro. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. (Tenth of December). Contos.

Scorsese, Martin; Wilson, Michael Henry. Uma viagem pessoal pelo cinema americano. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2004. (A personal journey with Martin Scorsese through American movies). Ensaio.

Thoreau, Henry David. A desobediência civil. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2012. (Civil Disobedience). Romance.

Tóibín, Colm. O mestre. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (The Master). Romance.

Trumbo, Dalton. Johnny vai à guerra. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017. (Johnny got his gun). Romance.

Vila-Matas, Henrique. Doutor Pesavento. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2010. (Doctor Pesavento). Romance.

Zambra, Alejandro. Formas de voltar para casa. [Por: José Geraldo Couto]. São Paulo: Cosac Naify, 2014. (Formas de voltar a casa). Romance.

Obra própria

Biografia

Couto, José Geraldo. André Breton – a transparência do sonho. São Paulo: Brasiliense, 1984.

Crítica cinematográfica

Couto, José Geraldo, in Vários autores, O cinema nos anos 80. São Paulo: Brasiliense, 1991.

Couto, José Geraldo, in Vários autores, Folha conta 100 anos de cinema. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

Couto, José Geraldo, in Vários autores, Os filme que sonhamos. São Paulo: Lume Filmes, 2011.

Guia de viagem

Couto, José Geraldo; Vilela, Caio. As cidades do Brasil: Florianópolis. São Paulo: Publifolha, 2006.

Entrevista

Couto, José Geraldo. Quatro autores em busca do Brasil. São Paulo: Rocco, 2000.

História

Couto, José Geraldo. Brasil: anos 60. São Paulo: Ática, 1990.

Couto, José Geraldo. O futebol brasileiro hoje. São Paulo: Publifolha, 2009.

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ISBN:   85-88464-07-1

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