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Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Faleceu na mesma cidade em 1908. Segundo a crítica literária, é considerado o maior nome da literatura nacional (BOSI, 1987). Atuou em várias frentes, dedicando-se à composição de romances, crônicas, dramaturgia e jornalismo. Na vida política, assumiu vários cargos e foi o fundador da Academia Brasileira de Letras (1897), sob o incentivo de Lúcio Mendonça. A carreira literária de Machado de Assis divide-se em duas grandes vertentes. A primeira fase encontra-se talhada nos moldes românticos da época. A segunda desvencilha-se do Romantismo e deriva para o Realismo, fase em que surpreende o leitor com romances nos quais o narrador e o protagonista se fundem, abusando em ironia, sarcasmo, ousadia e humor negro.
Machado de Assis também se dedicou à prática de tradução. Traduziu um número considerável de textos de gêneros diversos – poesia, teatro, ensaio, conto e romance. Entre os principais autores traduzidos, destacam-se: Alexandre Dumas, Alfred de Musset, Charles Dickens, Chateaubriand, Dante, Edgar Allan Poe, Heine, La Fontaine, Lamartine, Molière, Schiller, Victor Hugo, Willian Cowper e William Shakespeare. Traduziu do francês, do inglês e do alemão. Todavia, em relação às duas últimas línguas, optou pela tradução indireta, apesar do inglês ser considerada sua segunda língua. Para traduzir Schiller, por exemplo, registrou não dominar o alemão. Segundo o que afirmou, teria traduzido a obra a partir de uma tradução em francês.
Gledson (apud BARRETTO, 2007, p. 2) observa que a escolhas Machado de Assis estavam, a priori, em consonância com o clima literário em voga em sua época. A seleção de poemas de Lamartine, Musset e Chénier, por exemplo, indica que Machado estaria, em grande medida, influenciado pelas características literárias de seu período. Já a seleção de Shakespeare seria fruto de obediência ao cânone literário. No entanto, Gledson (1998) pontua que o escritor teria começado a satisfazer seus gostos pessoais a partir das traduções de Chateaubriand, Dante e Edgar Allan Poe. Com relação a este último, Machado afirma tê-lo selecionado “por alguma coisa mais humilde e próxima à sátira” (GLEDSON apud BARRETO, 2007, p. 2).
Muitas obras de Machado de Assis fazem frequentes alusões a Shakespeare, bem como às suas peças, indicando a influência que essas obras, por meio da tradução, exerceram na composição de seus romances. Hamlet, Otelo, Macbeth e Romeo e Julieta figuram entre os seus prediletos, dada as várias referências em suas obras. Ferreira (2004) afirma ainda que as traduções de Machado não se limitam apenas àquelas citadas. Estendem-se em vários excertos que se inserem em seus romances, especialmente as falas dos personagens das peças de Shakespeare, presentes em seus escritos que “adquirem uma roupagem machadiana com novos significados [...]. Machado sempre se valia de citações de Shakespeare, ora para invertê-las, ora para questioná-las” (FERREIRA, 2004, p. 123).
Machado de Assis exerceu também o papel de crítico de tradução. No ensaio intitulado O passado, o presente e o futuro da literatura (1858), Machado refere-se ao que chama de “as três formas literárias essenciais” (romance, poesia e drama), afirmando com veemência a existência das duas primeiras entre nós. No entanto, em relação à terceira forma literária essencial, Machado atribui à intensa e desnecessária atividade tradutória a inexistência de um teatro nacional (ASSIS, 1997).
Em prefácio dedicado a Antologia Poética de Raymundo Corrêa, Machado de Assis comenta que o poeta, ao traduzir, exerceu um trabalho com “habilidade de primeira ordem” e que, “por amor aos originais”, conseguiu realizar um tipo de tradução que Haroldo de Campos viria a denominar de perfazer a tradução: “um excesso lúcido, um vôo que só a aturada perícia artesanal permite ao poeta-tradutor perfazer sem colapso” (CAMPOS apud FERREIRA, 2004, p. 126 – grifos da autora). As afirmações de Machado de Assis revelam uma postura de tradutor que põe em xeque a dicotomia original/tradução, desmitificando a suposta superioridade do original. Tecendo comentários sobre a tradução da obra de John Greenleaf Whittier (The Cry of a Lost Soul), realizada por Dr. Pedro Luis, Machado aproxima tradução e original, atribuindo às recriações o mesmo patamar de importância que ocupa o texto primeiro: “A poesia tradução parece poesia original, tão naturais, tão fáceis, tão de primeira mão são os seus versos”. E continua, sem se preocupar com as correntes teóricas que mantém original e tradução em pólos distintos e valorativos, ou seja, “o original” como produção intocável, logo intraduzível: “Não quero privar os entendedores do prazer de compararem as duas produções, os dois originais, deixem-me assim chamá-los” (ASSIS apud FERREIRA, 2004, p. 127-8 – grifos nossos).
Verbete publicado em 17 de February de 2012 por:
Adriano Mafra
Munique Helena Schrull
Ronaldo Lima
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