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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Haroldo de Campos

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Proeminente poeta, tradutor, crítico literário, ensaísta e teórico da tradução, Haroldo Eurico Browne de Campos nasceu em São Paulo em 1929. Desde jovem, se interessou pela literatura em todas as suas formas, ou seja, em prosa e verso e seus sucedâneos. Frequentou o colégio São Bento onde iniciou seus primeiros estudos de outros idiomas, entre eles, latim, francês, inglês e espanhol.  No final dos anos 1940, Haroldo de Campos se matriculou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, ocasião em que publicou seu primeiro livro, intitulado O Auto do Possesso, lançado em 1949, período em que atuou do Clube de Poesia da referida Instituição. Haroldo de Campos defendeu sua tese de doutorado em 1972, junto à Faculdade de Filosofia, Literatura e Ciências Humanas da USP, tendo dedicado suas investigações à teoria da literatura, e cujo título evidencia parte de seus escopos e interesses, qual sejam: Para uma teoria da prosa modernista brasileira: morfologia do Macunaíma. Campos incrementou sua carreira acadêmica lecionando na PUC-SP e na Universidade do Texas, em Austin.

Nos anos 1950, ao lado de seu irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, fundou o movimento literário conhecido como Poesia Concreta, instaurado com vistas a explorar as potencialidades de outras expressões semióticas para além do texto linguístico codificado, abordando expressividades visuais e sonoras. O referido grupo gerou imenso prestígio em diferentes fóruns culturais brasileiros e até em âmbito internacional, influenciando artistas de diferentes áreas, como a música, a arquitetura e as artes plásticas.

Além de sua produção poética, Haroldo de Campos se destacou como um dos mais salientes tradutores brasileiros, dedicando grande parte de seus esforços intelectuais ao estudo e à tradução de obras literárias expressas em diferentes idiomas, como o italiano, o alemão e o russo. Sua abordagem como tradutor era inovadora e criativa, pois suas perspectivas consistiam em interpretar e traduzir para além do significado imediato dos textos, sempre propondo profundos mergulhos nas sutilezas e nuances estilísticas e culturais. Haroldo de Campos traduziu trabalhos de Ezra Pound, Samuel Beckett, Stéphane Mallarmé e Octavio Paz, além de William Shakespeare, Emily Dickinson, Edgar Allan Poe e Walt Whitman. Todavia, cabe aqui destacar James Joyce, do qual foi responsável pela primeira tradução completa de Finnegans Wake para o português brasileiro. Consideram-se suas traduções como verdadeiras obras de arte, passíveis de emular uma série de passagens dos textos-fonte. As traduções (leia-se recriações) de Haroldo de Campos tendem à valorização da sonoridade e da musicalidade sugeridas no emprego das formas, além de buscar preservar a riqueza da essência poética presentes nos textos de partida.

Além de sua produção poética e tradutória, Haroldo de Campos também se revelou importante crítico literário e ensaísta, tendo publicado diversos livros e artigos sobre poesia, tradução e teoria literária. Suas contribuições para a cultura brasileira e para a literatura mundial são incontestáveis. Seu legado continua inspirando e influenciando artistas e estudiosos, principalmente na área dos Estudos da Interpretação e da Tradução. Haroldo de Campos faleceu em São Paulo em 2003, logo após ter publicado sua tradução da Ilíada de Homero do grego para o português brasileiro. 

 

Verbete publicado em 17 de April de 2023 por:
Brenda Bressan Thomé
Juliana Oliveira de Oliveira
Marie-Hélène Catherine Torres

Excertos de traduções

Poema “Escrito con tinta verde”, de Octavio Paz. Tradução de Haroldo de Campos.

Escrito con tinta verde

Escrito com tinta verde

La tinta verde crea jardines, selvas, prados,
follajes donde cantan las letras,
palabras que son árboles,
frases que son verdes constelaciones.

A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde gorjeiam letras,
palavras que são árvores,
frases de verdes constelações.

Deja que mis palabras, oh blanca, desciendan y te cubran
como una lluvia de hojas a un campo de nieve,
como la yedra a la estatua,
como la tinta a esta página.

Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como a hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Brazos, cintura, cuello, senos,
la frente pura como el mar,
la nuca de bosque en otoño,
los dientes que muerden una brizna de yerba.

Braços, cintura, colo, seios,
fronte pura como o mar,
nuca de bosque no outono,
dentes que mordem um talo de grama.

Tu cuerpo se constela de signos verdes
como el cuerpo del árbol de renuevos.
No te importe tanta pequeña cicatriz luminosa:
mira al cielo y su verde tatuaje de estrellas.

Teu corpo se constela de signos verdes,
renovos num corpo de árvore.
Não te importe tanta miúda cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.

 

 

 

 

Paz, Octavio. Transblanco: em torno a blanco de Octávio Paz. São Paulo: Siciliano, 1994, p.178–179.

Bibliografia

Traduções Publicadas

ALIGHIERI, Dante. Seis cantos do paraíso. [Por: Haroldo de Campos]. Rio de Janeiro: Gastão de Holanda Editor, 1976. [2 ed., Rio de Janeiro: Fontana - Instituto Italiano de Cultura, 1978]. (Paradiso). Poesia.

AQUITÂNIA, Guilherme et al. Traduzir e trovar. [Por: Haroldo de Campos e outros]. São Paulo: Papyrus, 1968. Antologia/poesia. 

CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; PIGNATARI, Décio; MALLARMÉ, Stéphane. Mallarmé. [Por: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari]. Edição bilíngue. São Paulo: Perspectiva, 1974. [2 ed., 1980; 3 ed., ampliada, 2006]. Poesia.

CAMPOS, Augusto; CAMPOS, Haroldo; SCHNAIDERMAN, Boris. Poesia russa moderna. [Por: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. [2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1985; 3 ed., ampliada. São Paulo: Perspectiva, 2001;]. Antologia/poesia.

CAMPOS, Haroldo de. Bere’shith: a cena de origem (Gênesis). [Por: Haroldo de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 1993. Poesia.

CAMPOS, Haroldo de. Éden: um tríptico bíblico. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Perspectiva, 2004. Poesia.

CAMPOS, Haroldo de. Escrito sobre jade: poesia clássica chinesa. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. Ouro Preto: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1996. [2 ed., organização de Trajano Vieira; São Paulo: Ateliê Editorial, 2009]. Poesia.

CAMPOS, Haroldo de. Pedra e luz na poesia de Dante. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Imago, 1998. Poesia/Crítica.

CAMPOS, Haroldo de. Qohelet/O-Que-Sabe: Eclesiastes: 13 [Por: Haroldo de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 1990. (קוהלת). Poesia.

HOMERO. Ilíada, canto I - Mênis: a ira de Aquiles. [Por: Haroldo Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

HOMERO. Ilíada: Vol. II. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Benvirá, 2002.

HOMERO. Ilíada:Vol. I. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Mandarim, 2001. Epopeia.

HOMERO. Os nomes e os navios: canto II da Ilíada de Homero. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Sette Letras,1999. Epopeia.

JOYCE, James. Panorama do Finnegans Wake. [Por: Haroldo de Campos e outros]. São Paulo: Comissão Estadual de Literatura e Secretaria da Cultura, 1962. [3. ed. ampliada, São Paulo: Perspectiva, 2001]. Teoria/crítica literária.

KAVÁFIS, Konstantinos. Poemas. [Por: Haroldo de Campos]. 1 ed., São Paulo: Editora Cosac Naify, 2012. Poesia.

MAIAKOVSKI, Vladimir Vladimirovicth. Poemas. [Por: Haroldo de Campos e outros]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967. [2 ed. ampliada, São Paulo: Perspectiva, 1982; 5 ed. 1992; 7 ed. 2006]. Poesia russa.

PAZ, Octávio. Transblanco: em torno a blanco. [Por: Haroldo Campos em parceira com Octávio Paz]. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981 [1986]. [2 ed., ampliada. São Paulo: Siciliano, 1994]. Crítica literária.

POUND, Ezra. Antologia Poética. [Por: Haroldo de Campos e outros]. Lisboa: Ulisséia, 1968. Antologia/poesia.

POUND, Ezra. Cantares. [Por: Haroldo de Campos e outros]. Rio de Janeiro: MEC, 1960. (The Cantos). Poesia.

POUND, Ezra. Poesia. [Por: Haroldo de Campos e outros]. Edição bilíngue. São Paulo: Hucitec, 1985. [Brasília: Editora UnB, 1983]. Poesia.

UNGARETTI, Giuseppe. Ungaretti: daquela estrela à outra. [Por: Haroldo de Campos e Aurora Bernardini]. Edição bilíngue. São Paulo: Mandarim, 2002. Compilação de Lucia Wataghin. Edição de Guido Clemente e Luca Scarlni. Poesia.

ZEAMI, Motokiyo. Hagoromo de Zeami: o charme sutil. [Por: Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Estação Liberdade, 1994. Teatro. 

Obra própria

CAMPOS, Haroldo. A educação dos cinco sentidos. São Paulo: Brasiliense, 1985. [2 ed. São Paulo: Iluminuras, 2013].

CAMPOS, Haroldo. A máquina do mundo repensada. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000.

CAMPOS, Haroldo. Auto do possesso. São Paulo: Clube de Poesia de São Paulo, 1950.

Campos, Haroldo. Crisantempo: no espaço curvo nasce um. São Paulo: Perspectiva, 1998.

CAMPOS, Haroldo. Entremilênios. Coleção Signos, 48. São Paulo: Perspectiva, 2009. 256p.

CAMPOS, Haroldo. Finismundo: a última viagem. Ouro Preto: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1990.

CAMPOS, Haroldo. Galáxias. São Paulo: Ex-Libris, 1984.

CAMPOS, Haroldo. Melhores poemas Haroldo de Campos. Coleção Melhores Poemas. Rio de Janeiro: Global, 1992.

CAMPOS, Haroldo. Servidão de passagem. São Paulo: Noigandres, 1962.

CAMPOS, Haroldo. Signantia: quasi coelum/signância: quase céu. São Paulo: Perspectiva, 1979.

CAMPOS, Haroldo. Xadrez de estrelas: percurso textual – 1949-1974. São Paulo: Perspectiva, 1976.

CAMPOS, Haroldo. Yugen: cuaderno japonês. [Poemas traduzidos por: Andrés Sáanches Robayna]. Tenerife: Syntaxis, 1993.

CAMPOS, Haroldo; MANSUR, Guilherme. Gatimanhas e felinuras. Ouro Preto: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1994.

PRÊMIOS E HOMENAGENS

 

Prêmio Jabuti (1991) — pela tradução da obra Qohélet/O-que-sabe: Eclesiastes

Prêmio Jabuti (1992) — Personalidade Literária do Ano

Prêmio Jabuti (1993) — pela obra Os melhores poemas de Haroldo de Campos

Prêmio Jabuti (1994) — pela tradução da obra Hagoromo de Zeami

Título de doutor honoris causa (1996) — Universidade de Montreal, no Canadá

Prêmio Jabuti (1999) — pela obra Crisantempo

Prémio Octavio Paz (1999) — México

Prêmio Jabuti (2002) — pela tradução da obra Ilíada, de Homero

Prêmio Jabuti (2003) — pela tradução da obra Ilíada, de Homero (volume 2)

 

Menção honrosa do Prêmio Jabuti (2004) — pela participação na tradução da obra Ungaretti — daquela estrela à outra

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