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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Débora Landsberg

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Débora Landsberg Gelender Coelho, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1982, onde reside desde então. De janeiro a maio de 2017, foi tradutora residente da Literature Ireland e da Trinity College Dublin, na Irlanda. Iniciou seu processo de aprendizagem da língua inglesa na escola, onde aprendeu o inglês básico; após isso, Landsberg se tornou autodidata na língua.

Mestre nos estudos da Linguagem pela PUC-Rio, Landsberg trabalha apenas em sua área, o segmento de tradução editorial. Em 2005, ainda cursando a faculdade de Letras e por indicação de seus professores, Débora conseguiu seu primeiro trabalho na Editora Zahar, onde traduziu seus dois primeiros livros: O Manifesto Comunista de Marx e Engels, de David Boyle, e Desobediência Civil, de Henry David Thoreau.

Débora traduziu diversas obras literárias, em destaque para as obras: Sula, de Toni Morrison, Um conto de duas cidades, de Charles Dickens, A inquilina de Wildfell Hall, de Anne Brontë, e três romances de Sally Rooney: Belo mundo, onde você está, Pessoas normais e Conversas entre amigos.

Verbete publicado em 15 de September de 2022 por:
Raul Miranda
Pablo Cardellino

Excertos de traduções

Excerto de Sula, de Toni Morrison. Tradução de Débora Landsberg.

In the fifties, when I was a student, the embarrassment of being called a politically writer was so acute, the fear of critical derision for channeling one’s creativity toward the state of social affairs so profound, it made me wonder: Why the panic? The flight from any accusation of revealing an awareness of the political world in one’s fiction turned my attention to the source of the panic and the means by which writers sought to ease it. What could be so bad about being socially astute, politically aware in literature? Conventional wisdom agrees that political fiction is not art: that such work is less likely to have aesthetic value because politics-ass politics-is agenda and therefore its presence taints aesthetic production.

Na década de 1950, quando era estudante, o constrangimento de ser chamado de escritor politizado era tão forte, o medo do escárnio da crítica por canalizar a criatividade para o estado das questões sociais era tão profundo, que eu me perguntava: por que o pânico? A fuga de qualquer acusação de exibir uma consciência do mundo político na ficção fez minha atenção se voltar para a fonte do pânico e os meios pelos quais os escritores procuravam aplacá-lo. O que poderia haver de tão ruim em ser socialmente perspicaz, politicamente consciente na literatura? A crença comum é de que ficção política não é arte; que é menos provável que uma obra assim tenha valor estético porque a política — a política como um todo — é plano de ação e, portanto, sua presença macula a criação estética.

That wisdom, which seems to have been unavailable to Chaucer, or Dante, or Catullus, or Sorphocles, or Shakespeare, or Dickens, is still with us, and, in 1969 it placed an inordinate burden on African American writers. Whether they were wholly uninterested in politics of any sort, or whether they were politically inclined, aware, or aggressive, the fact of their race or the race of their characters doomed them to a “political-only” analysis of their worth. If Phillis Wheatley wrote “The sky is blue”, the critical question was what could blue sky mean to a black slave woman? If Jean Toomer wrote “The iron is hot,” the question was how accurately or poorly he expressed chains of servitude. This burden rested not only on the critics, but also on the reader. How does a reader of any race situate herself or himself in order to approach the world of a black writer? Won’t there always be apprehension about what may be revealed, exposed about the reader?

Essa crença, que parece não ter existido para Chaucer, Dante, Catulo, Sófocles, Shakespeare ou Dickens, continua conosco e, em 1969, era um fardo descomunal para os escritores afroamericanos. Seja quando não tinham interesse nenhum por política, ou no caso de terem tendências, consciência ou agressividade no campo político, a raça deles ou a raça de seus personagens os condenava a uma análise “puramente política” de sua relevância. Se Phillis Wheatley escrevesse “o céu é azul”, a questão crucial seria o significado do céu azul para uma escrava negra. Se Jean Toomer escrevesse “o ferro é quente”, a questão seria com que precisão ou imprecisão ele exprimia as correntes da servidão. Esse encargo cabia não só aos críticos, mas também ao leitor. Como um leitor de qualquer raça que seja se coloca a fim de se aproximar do mundo de um autor negro? Não haverá sempre uma apreensão quanto ao que pode se revelar, se expor a respeito do leitor?

In 1970, when I began writing Sula, I had already had the depressing experience of reading commentary on my first novel. The Bluest Eye, by both black and white reviewers that-with two exceptions - had little merit since the evaluation ignored precisely the “aesthetics only” criteria it championed. If the novel was good, it was because it was faithful to a certain kind of politics; if it was bad, it was because it was faithless to them. The judgment was based on whether “Black people are - or are not - like this”. This time out, I returned the compliment and ignored the shallowness of such views and, again, rooted the narrative in a landscape already tainted by the fact that it existed. Only a few people would be interested, I thought, in any wider approach - fewer than the tiny percentage of the fifteen hundred who had bought the first book. But the act of writing was too personally important for me to abandon it just because the prospects of my being taken seriously were bleak; It may be difficult now to imagine how it felt to be seen as a problem to be solved rather than a writer to be read. James Baldwin, Ralph Ellison, Richard Wright, Zora Neale Hurston - all had been called upon to write an essay addressing the “problem” of being a “Negro” writer. In that - no win situation - inauthentic, even irresponsible, to those looking for a politically representative canvas; marginalized by those assessing value by how “moral” the characters were ‘ my only option was fidelity to my own sensibility. Further exploration of my own interest, questions, challenges. And since my sensibility was highly political and passionately aesthetic, it would unapologetically inform the work I did. I refused to explain, or even acknowledge, the “problem” as anything other than an artistic one. Other questions mattered more. What choices are available to black women outside their own society’s approval? What are the risks of individualism in a determinedly individualistic, yet racially uniform and socially stativ, community?

Em 1970, quando comecei a escrever Sula, já tinha vivido a experiência deprimente de ler comentários sobre meu primeiro romance, O olho mais azul, de resenhistas negros e brancos que — salvo por duas exceções — pouco mérito tinham, já que a avaliação ignorava exatamente o critério “puramente estético” que defendiam. Se o romance era bom, era por ser fiel a certo tipo de política; se era ruim, era por não lhe ser fiel. A crítica era baseada em “os negros são — ou não são — desse jeito”. Dessa vez, retribuí o elogio e ignorei a superficialidade de tais opiniões e, de novo, arraiguei a narrativa em uma paisagem já maculada pelo fato de existir. Só algumas pessoas se interessariam, eu imaginava, por uma abordagem mais ampla — bem menos que uma minúscula porcentagem das mil e quinhentas que tinham comprado o primeiro livro. Mas o ato de escrever me era muito importante do ponto de vista pessoal para que eu o abandonasse só porque a probabilidade de que me levassem a sério era baixa. Talvez agora seja difícil imaginar qual é a sensação de ser visto como um problema a ser resolvido e não um escritor a ser lido. James Baldwin, Ralph Ellison, Richard Wright, Zora Neale Hurston — todos foram convocados a fazer ensaios abordando o “problema” de ser um escritor “negro”. Nessa situação em que uma vitória é impossível — inautêntica, até mesmo irresponsável, para os que buscam um retrato politicamente representativo; marginalizada para os que calculam o valor segundo a “moralidade” dos personagens —, minha única opção era ser fiel à minha própria sensibilidade. Explorar mais a fundo meus interesses, questões, desafios. E, já que minha sensibilidade era extremamente política e veementemente estética, ela permearia sem culpa o trabalho que eu fizesse. Recusei-me a explicar, ou sequer admitir, o “problema” como algo além de artístico. Outras questões eram mais importantes. Como é a amizade entre mulheres quando não é mediada por homens? Que opções existem para mulheres negras fora da aprovação de suas comunidades? Quais são os riscos do individualismo em uma comunidade firmemente individualista, porém racialmente uniforme e socialmente estática?

 

MORRISON, Toni. Sula. Nova Iorque: Vintage, 2007. p. 7-9

MORRISON, Toni. Sula. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 7-9

Excerto de Belo mundo, onde você está, de Sally Rooney. Tradução de Débora Landsberg.

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A woman sat in a hotel bar, watching the door. Her appearance was neat and tidy: white blouse, fair hair tucked behind her ears. She glanced at the screen of her phone, on which was displayed a messaging interface, and then looked back at the door again. It was late March, the bar was quiet, and outside the window to her right the sun was beginning to set over the Atlantic. It was four minutes past seven, and then five, sic minutes past. Briefly asn with no perceptible interest she examined her fingernails. At eight minutes past seven, a man entered through the door. He was slight and dark-haired, with a narrow face. He looked around, scanning the faces of the other patrons, and then took this phone out and checked the screen. The woman at the window noticed him but, beyond watching him, made no additional effort to catch his attention. They appeared to be about the same age, in their late twenties or early thirties. She let him stand there until he saw her and came over..

Uma mulher estava sentada no bar do hotel, olhando a porta. Sua aparência era elegante e asseada: blusa branca, o cabelo louro enfiado atrás das orelhas. Ela deu uma olhada na tela do celular, que mostrava um aplicativo de mensagens, e tornou a fitar a porta. Era fim de março, o bar estava sossegado, e, do lado de fora da janela, à sua direita, o sol começava a se pôr sobre o Atlântico. Eram sete horas e quatro minutos, e depois cinco, seis minutos. Por alguns instantes e aparentemente sem nenhum interesse, ela examinou as unhas. Às sete e oito, um homem entrou porta adentro. Era franzino e tinha o cabelo escuro, o rosto estreito. Ele olhou ao redor, analisando a fisionomia dos outros clientes, e então pegou o celular e verificou a tela. A mulher junto à janela o notou, mas, além de observar, não fez nenhum esforço a mais para chamar sua atenção. Pareciam ser mais ou menos da mesma idade, ter vinte e tantos ou trinta e poucos anos. Ela deixou que ele ficasse de pé ali até vê-la e se aproximar.

Are you Alice? he said.

Você é a Alice?, ele perguntou.

That’s me, she replied.

Eu mesma, ela respondeu.

Yeah, I’m Felix. Sorry I’m late.

Ah, eu sou o Félix. Desculpa o atraso.

In a gentle tone she replied: That’s alright. He asked her what she wanted to drink and then went to the bar to order. The waitress asked how he was getting on, and he answered: Good yeah, yourself? He ordered a vodka tonic and a pint of lager. Rather than carrying the bottle of tonic back to the table, he emptied it into the glass with a quick and practised movement of his wrist. The woman at the table tapped her fingers on a beermat, waiting. Her outward attitude had become more alert and lively since the man had entered the room. She looked outside now at sunset as if it were of interest to her, though she hadn’t paid any attention to it before. When the man returned and put the drinks down, a drop of lager spilled over and she watched its rapid progress down the side of his glass

Em tom amável, ela disse: Não tem problema. Ele perguntou o que ela queria beber e depois foi ao balcão fazer o pedido. A garçonete quis saber como ele estava, e ele respondeu: Legal, e você? Pediu uma vodca com tônica e um copo de cerveja. Em vez de levar a garrafa de água tônica para a mesa, ele a esvaziou no copo com um movimento ágil e ensaiado do punho. A mulher à mesa batucou os dedos no porta-copos, esperando. Transparecia ter ficado mais alerta e animada desde que o homem chegara. Ela olhou para fora, em direção ao pôr do sol, como se fosse de seu interesse, embora não tivesse prestado nenhuma atenção nele antes. Quando o homem voltou e pôs as bebidas na mesa, uma gota de cerveja transbordou, e ela a observou cair ligeiramente pela lateral do copo.

You were saying you just moved here, he said. Is that right?

Você estava falando que acabou de se mudar pra cá, ele disse. É isso mesmo?

She nodded, sipped her drink, licked her top lip.

Ela fez que sim, deu um gole na bebida, lambeu o lábio superior.

What did you do that for? he asked.

Por que foi que você fez isso?, ele perguntou.

What do you mean?

Como assim?

I mean, there’s not much in the way of people moving here, usually. People moving away from here, that would be more the normal thing. You’re hardly here for work, are you?

É que não é muito comum as pessoas se mudarem pra cá. O mais normal é que elas se mudem daqui. Você não está aqui por causa de trabalho, né?

Oh. No, not really.

Ah. Não, não exatamente.

A momentary glance between them seemed to confirm that he was expecting more of an explanation. Her expression flickered, as if she were trying to make a decision, and then she gave a little informal, almost conspiratorial smile.

Um olhar rápido entre eles pareceu confirmar que ele esperava uma explicação mais detalhada. A expressão dela vacilou, como se tentasse tomar uma decisão, e então deu um sorrisinho informal, quase conspiratório.

 

ROONEY, Sally. Belo mundo, onde você está. Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 2021. p. 7-8

ROONEY, Sally. Belo mundo, onde você está. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 7-8

Bibliografia

Traduções Publicadas

BOYLE, David. O manifesto comunista de Marx e Engels. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Editora Zahar, 2006. (The Communist Manifesto). Social.

BRONTË, Anne. A inquilina de Wildfell Hall. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Penguin-Companhia, 2021. (The Tenant of Wildfell Hall). Ficção

DICKENS, Charles. Um conto de duas cidades. [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Estação Liberdade, 2019. (A tale of two cities). Literatura.

ENRIGHT, Anne. A estrada verde. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Alfaguara/Companhia das Letras, 2017. (The Green Road). Ficção.

GILBERT, Elizabeth. Cidade das garotas. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Alfaguara/Companhia das Letras, 2019. (City of Girls). Romance.

HILLENBRAND, Laura. Invencível.  [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. (Unbroken). Biografia.

HOMES, A. M. Que sejamos perdoados.  [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Objetiva/Alfaguara, 2014. (May we be forgiven). Ficção.

ISHERWOOD, Christopher. Um homem só. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. Companhia das Letras. (A Single Man). Ficção.

JACKSON, Shirley. A assombração da Casa da Colina. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Alfaguara/Companhia das Letras, 2021. (The Haunting of Hill House). Ficção.

JACKSON, Shirley. O homem da forca. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Alfaguara/Companhia das Letras, 2021. (Hangsaman). Ficção.

JACKSON, Shirley. Sempre vivemos no castelo. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Suma de Letras/Companhia das Letras, 2017. (We Have Always Lived in the Castle). Ficção.

KINCAID, Jamaica. A autobiografia da minha mãe. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Alfaguara/Companhia das Letras, 2020. (The Autobiography of My Mother). Autobiografia.

MORRISON, Toni. Sula. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. (Sula). Ficção.

MOUNK, Yascha. O povo contra a democracia. [Por: Débora Landsberg, Cássio de Arantes Leite]. São Paulo:Companhia das Letras, 2019. (The People vs. Democracy: Why Our Freedom Is in Danger and How to Save It). Político.

OATES, Joyce Carol. A história de uma viúva. [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Objetiva/Alfaguara, 2011. (A Widow 's Story). Ficção.

OATES, Joyce Carol. Mulher de barro. [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Objetiva/Alfaguara, 2015. (Mudwoman). Ficção.

OATES, Joyce Carol. Pássaro do paraíso. [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Objetiva/Alfaguara, 2012. (Little bird of heaven). Ficção.

OBAMA, Michelle. Minha história. [Por: Débora Landsberg, Denise Bottmann e Renato Marques]. São Paulo: Objetiva/Companhia das Letras, 2019. (Becoming). Autobiografia.

ROONEY, Sally. Belo mundo, onde você está. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. (Beautiful World, Where Are You). Ficção.

ROONEY, Sally. Conversas entre amigos. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Alfaguara/Companhia das Letras, 2017. (Conversations with Friends: A Novel). Ficção.

ROONEY, Sally. Pessoas normais. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. (Normal people). Ficção.

SHRIVER, Lionel. Dupla Falta. [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro:  Intrínseca, 2012. (Double fault). Ficção.

STUART, Douglas. A história de Shuggie Bain. [Por: Débora Landsberg]. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021. (Shuggie Bain). Ficção.

THOREAU, Henry. A desobediência civil. [Por: Débora Landsberg].  São Paulo: Editora Zahar, 2008. (Resistance to Civil government). História.

TWOHEY, Megan. KANTOR, Jodi. Ela disse: os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo. [Por: Débora Landsberg, Denise Bottmann, Isa Mara Lando e Julia Romeu]. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. (She Said: Breaking the Sexual Harassment Story that Helped Ignite a Movemen). Social.

WIENER, Anna. Vale da estranheza: fascínio e desilusão na meca da tecnologia. [Por: Débora Landsberg]. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. (Uncanny Valley: A Memoir). Ciência Sociais. 

 

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