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Caetano Lopes de Moura (1780-1860), tradutor, médico, escritor e cientista baiano, partiu para a Europa no início do século XIX para viver na França napoleônica. Todas as suas obras foram escritas e impressas naquele país em razão de seu exílio voluntário. Embora pouco conhecido no Brasil, fazia questão de registrar no frontispício de seus livros – Natural da Bahia.
Só se tornaria referência, em vida, quase quarenta anos depois de ter deixado o Brasil, através da tradução do romance de Walter Scott, O Talismã, publicado em 1837. D. Pedro II interessou-se por sua trajetória a ponto de lhe encomendar uma biografia, oferecendo-lhe uma pensão para realização de pesquisa junto às bibliotecas da França com vistas ao estudo da geografia do Brasil. O Imperador concedeu-lhe também autorização para que lhe enviasse correspondências sem intermediações, uma vez que ele próprio, D. Pedro II, dedicava parcela importante de sua vida pessoal a atividades ligadas à literatura e à tradução, conforme ele mesmo registra em seu Diário pessoal, pesquisado no Museu Imperial de Petrópolis/RJ (2010).
Segundo Cláudio Veiga (1979), a biografia de Caetano Lopes de Moura não foi realizada com empenho similar àquele, por exemplo, das Confissões de Rousseau ou das Memórias de Chateaubriand. Seu objetivo principal parece ter sido o de responder a encomenda de D. Pedro II. Dessa forma, a divulgação de suas memórias foi bastante sucinta, embora, segundo Veiga (1979), mereça revisão a partir dos manuscritos originais, em razão de alguns equívocos. A biografia foi lida pelo imperador e por alguns palacianos, entre os quais o Marquês de Sapucaí, que copiou o texto na íntegra de seu próprio punho. Com o falecimento de Lopes de Moura em 1860, a primeira parte do manuscrito original foi enviada para o Instituto Histórico e Geográfico pelo próprio Imperador, que guardou consigo a segunda parte do documento. Em 1902 a biografia foi publicada na íntegra no Jornal do Comércio de Salvador.
Lopes de Moura estudou medicina na França entre 1803 e 1808. Com a tomada de Portugal por Napoleão, engajou-se no serviço militar por cinco anos, atuando na legião portuguesa a serviço do exército francês. Posteriormente, já casado, instalou -se por algum tempo na cidade de Grenoble, onde continuou atuando como médico e teve a oportunidade de ter visto o General francês pela última vez. Em 1938 foi contratado como tradutor pela Editora Bossange e Aillaud, sendo hoje considerado, segundo José Paulo Paes (apud: Wyler, 2003:85) o primeiro tradutor brasileiro profissional. Em 1846, no final da monarquia de Louis Philippe, lançou uma biografia de Napoleão, a qual assinou da seguinte forma: Caetano Lopes de Moura, Cirurgião-mor na Legião Portuguesa ao serviço do Imperador Napoleão.
Lopes de Moura lançou-se como escritor para garantir sua subsistência quando já tinha 57. Com a pensão concedida por D. Pedro II, entre 1837 a 1847 passou a produzir de modo mais moderado, pois como tradutor viveu período de intensa produção. Comprovadamente, traduziu do francês, do inglês e do alemão. A maior parte de suas produções são traduções, porém, organizou edições, realizou prefácios, críticas literárias e revisões. Entre suas traduções se destacam seis obras de Sir Walter Scott (1771-1832), O Talismã, Os Puritanos da Escócia; Quintino Doward; O Misantropo; Waverley e A Prisão de Edimburgo; dois romances de James Fenimore Cooper (1789-1851), O Piloto e O derradeiro Moicano; um romance de Chateaubriand, Os Natchez e, finalmente, Os Incas de Juan Francisco Marmontel (1723-1799).
De autoria pessoal, entre os trabalhos mais conhecidos, destacam-se também a História de Napoleão Bonaparte e Harmonias da Criação. Lançou também várias obras didáticas, Mitologia da Mocidade, Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil, Epítome cronológico da História do Brasil, todas afetadas pelo fenômeno da caducidade, embora constituam importantes referências para a recomposição da gênese de seu trabalho, bem como para a recomposição da história nacional. Há de se destacar ainda, entre as obras didáticas, O livro indispensável, que se manteve como obra bastante curiosa em razão dos ensinamentos que propõe, tais como combater mosquitos e fabricar leite em pó (Veiga, 1979). Segundo Wyler (2003:65), “traduziu também compêndios de medicina adaptados para uso no Brasil”.
Verbete publicado em 1 de November de 2010 por:
Raquel da Silva Yee
Ronaldo Lima
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Scott, W. Os Puritanos da Escossia. [Por: Caetano Lopes de Moura] .Paris : J. Bailland, 1837. Romance.
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Veiga, C. Um brasileiro soldado de Napoleão. São Paulo: Ática, 1979.
Arquivos do Museu Imperial de Petrópolis-RJ, consultados em 26 de abril de 2010.
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