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Antonio Carlos Mangueira Viana nasceu a 5 de junho de 1944, em Aracaju, Sergipe, onde passou a infância e adolescência. Licenciado em Letras-francês pela Universidade Federal de Sergipe (1966), é mestre em teoria literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul onde, sob a orientação da professora Regina Zilberman, defendeu em 1980 sua dissertação “O corpo e o caos: a tragicidade no teatro de Nelson Rodrigues”. Tem doutorado em literatura comparada pela Université de Nice (França), concluído em 1986, com a tese “La Poésie de João Cabral de Melo Neto et la poétique de Paul Valéry”, sob a orientação do professor Michel Launay.
Foi professor de literatura brasileira, produção de texto e teoria literária no departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe de 1976 a 1995, quando se aposentou.
É, além disso, escritor, autor premiado de vários livros de contos, dois livros infantis e dois livros didáticos.
Seu primeiro contato com línguas estrangeiras foi na escola. Ao concluir o ginásio, já sabia francês a ponto de ler textos longos. “Mas foi no curso de Nancy, da Aliança Francesa, que um professor, depois de ler um texto que mandou a turma traduzir, me falou que eu tinha tudo para ser um bom tradutor. Na época eu já havia publicado meu primeiro livro de contos”. Também na escola estudou inglês, embora nunca tenha se dedicado a esta língua, e espanhol, que desenvolveu por meio de leituras. Pretende este ano fazer um bom curso de espanhol para começar a se exercitar em traduções, mas até hoje traduziu exclusivamente do francês.
Começou a traduzir assim que se formou em Letras, apenas para aprender melhor a língua. “O primeiro livro, apenas como exercício, foi A condição humana, de Malraux. Nunca tive vontade de reler essa tradução...”. Durante seu período de doutoramento na França (um ano em Nice e três em Paris), assistiu como aluno ouvinte ao curso de tradução da professora Anne Marie Quint, na Université de Paris IV-Sorbonne (onde, aliás, também frequentou um curso de Silviano Santiago sobre o poeta João Cabral).
Depois de regressar ao Brasil, foi apresentado à editora L&PM por Paulo Henriques Britto. “Foi aí que começou de verdade minha vida de tradutor.” De 1986 até hoje, traduziu 22 obras de ensaio, ficção, biografia, em geral propostas pelas editoras com as quais trabalha, mas que ele só aceita quando são “obras que possam me enriquecer literariamente”.
Nunca realizou uma tradução indireta, a partir de outra tradução. Em 2010, porém, teve uma experiência de tradução coletiva, com mais três colegas, para o livro de Ingrid Betancourt, Não há silêncio que não termine. Comenta, sobre as traduções que mais o marcaram:
“Não há livro fácil de traduzir. Todos têm sua complexidade, mas Ingrid Caven foi um dos que mais me deram trabalho, por causa da linguagem inovadora de Jean-Jacques Schuhl, muito moderna, muito pessoal.
Entre os que me deram grande prazer estão A controvérsia e Hoje Cendrars parte para o Brasil. São livros que nos instigam a ir sempre adiante na leitura, seja por sua linguagem ágil, seja por sua poeticidade. Das biografias, a de James Dean foi uma das mais emocionantes, pela forma como o Yves Salgues aborda a vida daquele jovem ator desamparado.”
Considera que sua relação com as editoras “é a melhor possível. Jamais me impuseram nada.” O que não o impede de observar que “o tradutor no Brasil precisa ser mais valorizado e ter o mínimo de participação nos lucros de um livro traduzido. Há livros que ficam anos a fio no catálogo, são reeditados e nós não recebemos nada. Seria hora de reverem isso.”
Antonio Carlos já traduzia, por prazer e exercício, antes de escrever, e não acredita que o fato de ser tradutor tenha qualquer influência em sua escrita. Acredita, porém, que o fato de ser escritor ajuda muito a entender o estilo de cada autor, na busca da palavra exata, no burilamento do texto, embora reconheça que ainda assim sempre se sente insatisfeito com suas traduções. “Acho que se o tradutor for escritor, meio caminho já foi andado. É preciso captar o espírito de cada livro a traduzir”.
Por outro lado, embora costume ler muito “sobre a arte de traduzir”, não segue nenhuma teoria específica de tradução. “Minha teoria é que, no final, o texto tenha a maior fluência possível, que faça o leitor esquecer que se trata de uma tradução. Meu projeto de tradução é procurar ser fiel ao máximo ao ritmo do autor que estou traduzindo.”
Em sua opinião, para ser um bom tradutor é necessário “antes de tudo conhecer muito bem a própria língua e ler sempre na língua que vai traduzir, anotando, observando, procurando pensar como seria traduzir determinadas palavras, determinadas estruturas. Traduzir é procurar equivalências entre duas línguas.
Verbete publicado em 6 de March de 2012 por:
Dorothée de Bruchard
Cláudia Borges de Faveri
Excerto de Ingrid Caven, de Jean-Jacques Schuhl. Tradução de Antonio Carlos Viana
The Devil in Miss Jones! Le Devil, c’était cette voix. C’était tellement inattendu, invraisemblable! On avait dérobé la voix de sa femme. Plus tard, il penserait qu’elle l’avait vendue pour une poignée de dollars à une de ces putes, et maintenant elle se baladait à travers le monde, sa voix, la chose la plus intime, la plus personnelle. |
The Devil in Miss Jones! O devil, a voz era dela. Ele não esperava por aquilo, não podia ser verdade! Haviam roubado a voz de sua mulher! Depois ele acharia que ela a teria vendido por um punhado de dólares a uma daquelas putas, e agora corria o mundo, sua voz, uma coisa tão íntima, tão pessoal. |
– Moralité, fit Charles, il ne faut pas confier sa voix, ni aucun morceau de son corps, d’ailleurs, à autrui, il ne faut pas la laisser voler. |
– É uma questão moral – disse Charles. – Não se pode confiar a voz nem nenhuma parte do corpo a ninguém. Não podemos permitir que alguém leve nossa voz. |
– S’envoler? |
– Leve, nossa voz? |
– Oui, c’est pareil. Voix?... vole! |
– Sim, leve... levam... |
– Comme les chapeaux! |
– Leve como os chapéus? |
– Oui, elle a dû voler dans un avion, dans des boîtes de film, avec son optique, ta voix, avion New-York-Munich... |
– Sim, tão leve que se leva registrada nos filmes dentro das caixas, como a sua, levada num vôo Nova York – Munique... |
– Arrête, ça me fait peur, ces morceaux de gens qui voyagent, tous ces chapeaux, ces voix qui volent... |
– Chega, papo mais sem sentido, pessoas que viajam, chapéus, vozes que alguém leva... |
SCHUHL, Jean-Jacques. In: Ingrid Caven. Paris: Gallimard, 2000, p. 161. |
SCHUHL, Jean-Jacques. Ingrid Caven. [Por : Antonio Carlos Viana]. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 118-119. |
Barthes, Roland. Racine. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1987. (Racine). Ensaio.
Bataille, Georges. O erotismo. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1987. (L’Érotisme) Ensaio.
Betancourt, Ingrid. Não há silêncio que não termine. [Por Antonio Carlos Viana]. Tradução com Dorothée de Bruchard, José Rubens Siqueira e Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. (Même le silence a une fin). Memórias.
Borer, Alain. Rimbaud na Abissínia. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1986. (Rimbaud en Abyssinie). Biografia.
Borer, Alain. Rimbaud da Arábia. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1988. (Rimbaud d’Arabie). Biografia.
Carrière, Jean-Claude. A controvérsia. [Por Antonio Carlos Viana]. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. (La Controverse de Valladolid). Romance.
Cendrars, Blaise. O ouro. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1988. (L’Or). Romance.
Clément, Catherine. O sangue do mundo: a outra viagem de Theo. [Por Antonio Carlos Viana]. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (Le voyage de Théo: le sang du monde). Romance.
Daix, Pierre. Picasso criador. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1989. (Picasso créateur). Biografia.
Daix, Pierre. Gauguin. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1993. (Paul Gauguin). Biografia.
Esopo, Fábulas. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1997. (Fables) Ficção grega.
Flem, Lygia. A vida cotidiana de Freud e seus pacientes. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1986. (La Vie quotidienne de Freud et de ses patients). Biografia.
Forrester, Viviane. Van Gogh ou O enterro na campo de trigo. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1988. (Van Gogh ou L’Enterrement dans les blés). Biografia.
Gattégno, Jean-Pierre. Um lugar entre os vivos. [Por Antonio Carlos Viana]. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. (Une place parmi les vivants). Romance policial.
Matarasso, Henri & Petitfils, Pierre. A vida de Rimbaud. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1988. (Vie d’Arthur Rimbaud). Biografia.
Michaud-Larivière, Jérôme. Hoje Cendrars parte para o Brasil. [Por Antonio Carlos Viana]. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. (Aujourd’hui Centrars part au Brésil). Biografia.
Moebius. A garagem hermética de Jerry Cornelius. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1991. (Le Garage hermétique). H. Quadrinhos.
Sagne, Jean. Toulouse Lautrec. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1990. (Toulouse Lautrec). Biografia.
Salgues, Yves. James Dean ou a dor de viver. [Por Antonio Carlos Viana]. Porto Alegre: L&PM, 1992. (James Dean ou le mal de vivre). Biografia.
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Viana, Antonio Carlos. O meio do mundo. Porto Alegre: Libra & Libra, 1993. (Recebe, pelos contos ainda inéditos, Prêmio Cidade de Belo Horizonte [1991]; e, posteriormente, Prêmio da Associação Gaúcha de Escritores [1993]).
Viana, Antonio Carlos. O meio do mundo e outros contos (antologia). São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
Viana, Antonio Carlos. Aberto está o inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Viana, Antonio Carlos. Cine Privê. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. (Finalista do Prêmio Jabuti 2010; escolhido como um dos dez melhores livros do ano pelo caderno Prosa & Verso do jornal O Globo (RJ); recebe o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA) [2010].)
Viana, Antonio Carlos. Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1997.
Viana, Antonio Carlos. Guia de redação: escreva melhor. São Paulo: Scipione, 2011.
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Viana, Antonio Carlos & Machado, Sônia. O palhaço e a bailarina. Porto Alegre: Edelbra, 2007.
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“Jardins suspensos”, in Moriconi, Ítalo (org.). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. Contos.
“Três revoltas”, in Zilberman, Regina (org.). Este seu olhar. São Paulo: Moderna, 2006. Contos.
“Duelo”, in Fernandes, Rinaldo de (org.). Quartas histórias. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. Contos.
“Prisões”, in Sanches Neto, Miguel (org.). Ficção – histórias para o prazer da leitura. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007. Contos.
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