Alessandra Paola Caramori :: DITRA - Dicionário de tradutores literários no Brasil :: 
Dicionário de tradutores literários no Brasil


Alessandra Paola Caramori

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Alessandra Paola Caramori nasceu em São Paulo, em 1963. Diplomou-se bacharel em Português e Italiano pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da USP. Pela mesma universidade, realizou o curso de especialização em tradução em Italiano, o mestrado em Língua e Literatura Italianas, com a dissertação “É o bicho = É bestiale: Dicionário de Expressões Idiomáticas no Domínio dos Animais”, e o doutorado em Linguística, com a tese “Expressões Idiomáticas em Gianni Rodari: subsídios para a elaboração de um dicionário bilíngue (italiano-português)”.

Iniciou seu trabalho como tradutora e dicionarista na USP durante o curso de especialização em tradução, em 1992, ao realizar seu trabalho de conclusão de curso com um dicionário italiano-português de expressões idiomáticas. Desde então não abandonou mais essas três paixões: a tradução de textos literários, a obra lexicográfica e as expressões idiomáticas.

Sua principal língua estrangeira de trabalho é o italiano, embora possua traduções feitas a partir do espanhol. Desde o início de 2007 atua como docente de língua italiana e de tradução no Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Verbete publicado em 21 de July de 2007 por:
Ana Paula M. Raso
Andréia Guerini

Excertos de traduções

Excerto do conto “Faccia di Mascalzone” (Cara de Cafejeste) do livro Racconti Romani (Contos Romanos) de Alberto Moravia. Tradução de Alessandra Paola Caramori.

FACCIA DI MASCALZONE

CARA DE CAFAJESTE

...

.....

Poi al grido di “basta”il ronzio cessò, l’attrice si levò dal letto, le lampade si spensero e tutti si mossero e circolarono. Capii che era il momento buono, mi avvicinai ad un macchinista e gli domandai: “per favore, il signor Zangarini.”

Depois com o grito de “corta” o zumbido parou, a atriz levantou-se da cama, as luzes se apagaram e todos se mexeram e começaram a circular. Percebi que era o momento propício, aproximei-me de um operador de câmara e perguntei: “Por favor, o senhor Zangarini.”

“E chi è Zangarini?” domandò quello da vero ignorante.

“E quem é esse Zangarini?” ele perguntou, como um perfeito cretino.

Rimasi smarrito. Per fortuna, un altro macchinista, più gentile intervenne: “Zangarini... ma non è qui... è al teatro numero tre.”

Fiquei arrasado. Por sorte, um outro operador, mais gentil, interveio: “Zangarini… ele não está aqui… está no estúdio número três.”

Uscimmo in fretta e, attraverso lo spiazzo, ci dirigemmo al teatro numero tre. Riaprimmo una di quelle porte così pesanti, entrammo in un capannone molto simile al primo. Ma qui non si girava: c’era molta luce e si vedevano parecchie persone che discutevano. Ci avvicinammo, ma non troppo, perché eravamo intimiditi e quelli facevano degli urli da belve e parevano arrabbiati sul serio. Uno magro come un chiodo, con gli occhi cerchiati di tartaruga e un paio di baffi neri che gli balavano sui denti bianchi, urlava dimenandosi: “non va, non va, non va.” E Zangarini, proprio lui, domandava: “Ma perché non va?”

Saímos depressa e, atravessando a área, dirigimo-nos ao estúdio número três. Abrimos uma daquelas portas superpesadas, entramos em um galpão muito semelhante ao primeiro. Mas ali não estavam filmando: havia muita luz e muitas pessoas discutindo. Aproximamo-nos, mas não muito, porque estávamos intimidados e algumas pessoas berravam como animais e pareciam enfurecidos de verdade. Um cara magro como um palito, com os óculos redondos de tartaruga e um belo bigode preto que dançava sobre os dentes brancos, berrava, esperneando “Não serve, não serve, não serve.” E Zangarini, ele próprio, perguntava: “Mas por que não serve?”

L’uomo coi baffoni rispondeva, sempre urlando: “Ma perché è troppo buono... perché ci ha la faccia del buonuomo... e io invece voglio una faccia di delinquente, di teppista, di barabba.”

O bigodudo respondia, continuando a berrar: “Mas porque é bom demais… tem cara de homem bom… eu, ao contrário, quero uma cara de delinqüente, de vândalo, de trapaceiro.”

“Prendi Proietti, allora.”

“Chame o Proietti, então.”

“Ma no, ma no, anche lui è troppo buono... è una pasta, um pacioccone... non va, non va.”

“Ah, não, ele também é bom demais… é honesto, é um bonachão… não serve, não serve.”

“Prendi Serafini.”

“Chame o Serafini.”

“Ma non va, non va.... Serafini non è buono, è un angelo, anzi un serafino... chi gli crede se fa il cattivo?... chi gli crede?”

“Não serve, não serve… Serafini não é bom, é um anjo, aliás um serafim… quem vai acreditar nele fazendo papel de mau?… quem vai acreditar?”

Capii che eravamo capitati male, ma tant’era: oramai eravamo nel ballo e dovevamo ballare. Colsi un momento che il regista, sempre smaniando e urlando, si era allontanato, mi avvicinai a Zangarini e gli dissi sottovoce: “Signor Zangarini, siamo venuti.”

Percebi que tínhamos chegado na hora errada, mas era tarde demais: agora que tínhamos entrado na dança, tínhamos que dançar. Aproveitei um momento em que o diretor, sempre aflito e berrando, afastara-se, aproximei-me de Zangarini e lhe disse em voz baixa: “Senhor Zangarini, chegamos.”

“Chi, siamo?” domando lui com você stizzita.

“Quem são vocês?” perguntou ele com voz irritada.

“La signorina Valentina” risposi facendomi da parte. Valentina si avanzõ e fece un piccolo inchino. “La signorina dell’ufficio pacchi... lei le aveva detto di venire.”

“A senhorita Valentina,” respondi, colocando-me de lado. Valentina deu um passo à frente e fez uma pequena reverência. “A senhorita da seção de encomendas… o senhor disse a ela que viesse.”

Zangarini doveva essersi dimenticato di ogni cosa. Poi guardò Valentina, parve ricordarsi e disse, sforzandosi di far la voce gentile: “mi dispiace, signorina, ma non c’è nulla da fare per lei.”

Zangarini devia ter-se esquecido de tudo. Depois olhou para Valentina, pareceu se lembrar e disse, esforçando-se em fazer uma voz gentil: “Sinto muito, senhorita, mas não há nada para você.”

“Ma come, venerdì lei aveva detto che c’era bisogno di una ragazza proprio come questa.”

“Mas como, na sexta-feira o senhor disse que precisava de uma moça exatamente assim como ela.”

“C’era... ma adesso non più: l’abbiamo trovata.”

“Precisava… mas agora não preciso mais: já encontramos outra”

“Ma dica” feci scaldandomi “questa non è la maniera.... farci venire qui e poi dirci che ne avete trovata un’altra.”

“Mas veja” disse enfurencendo-me “isto não é coisa que se faça…. nos fazer vir até aqui e depois nos dizer que encontraram uma outra.”

“E che posso farci io?”

“E o que é que eu posso fazer?”

Stavo per rispondergli proprio male, quando ad un tratto, scoppiò un urlo: “È lui... è lui... eccolo quello che ci vuole.”

Estava para responder a ele muito mal-educadamente quando, de repente, explodiu um berro: “É ele… é ele… o que nós estamos querendo.”

Era il regista che mi stava addosso, puntandomi in petto l’indice, con occhi fiammeggianti. Domandai, imbarazzato: “Ma chi, lui?” E il regista: “Lei è un mascalzone, uno sfruttatore di donne, un teppista, un magnacaccia, nevvero?... dica, lei è un mascalzone?”

Era o diretor que estava ao meu lado, apontando o indicador para o meu peito, com os olhos flamejantes. Perguntei embaraçado: “Mas ele quem?” E o diretor: “O senhor é um cafajeste, um aproveitador de mulheres, um vândalo, um gigolô, não é?… diga-me o senhor é um cafajeste?”

“Guardi come parla” risposi offeso, “sono un funzionario statale... mi chiamo Renato Parigini.”

“Olhe como fala” respondi ofendido, “sou um funcionário público… e me chamo Renato Parigini.”

“No, lei è il mascalzone di cui avevamo bisogno, lei, con quella faccia lì, è proprio il mascalzone che cercavo... lei è il mascalzone.”

“Não, o senhor é o cafajeste de que precisamos, o senhor, com essa cara, é exatamente o cafajeste que eu procurava… o senhor é o cafajeste.”

Insomma per farla breve, Zangarini intervenne e mi spiegò che stavano appunto cercando una faccia di mascalzone per una particina di contorno; che la faccia mia faceva proprio al caso loro; e così, se volevo, potevo passare quel giorno stesso per il provino. E Valentina? “No, niente da fare, ne abbiamo quante ne vogliamo,” urlò il regista al colmo dell’entusiamo. Ma poi, vedendo che Valentina aveva gli occhi pieni di lagrime, si corresse e soggiunse con voce affettuosa: “ Signorina, oggi avevamo bisogno di una faccia di mascalzone e l’abbiamo trovata... quando avremo bisogno di una faccia di angelo, penseremo a lei.”

Para encurtar a história, Zangarini interveio e me explicou que estavam procurando exatamente uma cara de cafajeste para um papelzinho secundário, que a minha cara se encaixava direitinho no que eles estavam querendo; e assim, se eu quisesse, podia fazer o teste naquele dia mesmo. E Valentina? “Nada feito, como ela temos tantas quantas quisermos,” berrou o diretor no auge do entusiasmo. Mas depois, vendo que Valentina estava com os olhos cheios de lágrimas, corrigiu-se e acrescentou com voz afetuosa: “Senhorita, hoje precisamos de uma cara de cafajeste e a encontramos… quando precisarmos de uma cara de anjo, vamos lembrar da sua.”

Così, ce ne andammo. Ma appena fuori degli studi, nel sentiero erboso, Valentina si staccò da me e non disse più nulla. Alla fermata del tram, sulla pedana, c’era la solita folla e lei si guardò intorno smarrita. Dovette sembrarle un’umiliazione di prendere il tram, da poveretta, dopo aver sognato la richezza, perché, improvvisamentem disse: “Ciao, Renato... prendo un taxi perché ho fretta... non ti dico di venire perché abiatiamo in due parti opposte.” E senza lasciarmi il tempo di rifiatare, si allontanò, con tutti i suoi fiocchetti, attraverso la strada allagata, verso i taxi.

Assim, fomos embora. Mas logo que saímos dos estúdios, no mesmo atalho gramado, Valentina afastou-se de mim e não disse mais nada. Na parada do bonde, na plataforma, havia a multidão de sempre e ela olhou em volta, atordoada. Devia achar uma humilhação pegar o bonde, como uma pobre coitada, após ter sonhado riquezas, porque, repentinamente, disse: “Tchau, Renato, vou pegar um táxi porque estou com pressa… não te convido para vir junto porque moramos em bairros opostos.” E, sem dar tempo para que eu falasse qualquer coisa, afastou-se, com todos os seus lacinhos, pela rua alagada, em direção aos táxis.

Non l’ho più rivista perché il giorno dopo non andai all’ufficio e feci il provino e questo provino andò bene e cominciai a lavaorare negli studi e da allora, più o meno, non ho mai smesso. Sono specializzato in particine di sfondo, anche mute, di teppista, sfruttatore di donne, baro, ladruncolo, e simili. Da ultimo ho saputo da un antico compagno dell’ufficio pacchi che ho incontrato per strada, che Valentina si è fidanzata con un impiegato del fermo posta, quattro sportelli più in là del suo.

Não a revi porque no dia seguinte não fui à agência, fiz o teste, fui aprovado e comecei a trabalhar nos estúdios e desde então praticamente não parei mais. Sou especialista em pápeis menores, mudos até, de vigarista, aproveitador de mulheres, gigolô, ladrãozinho e coisa e tal. A última notícia que eu tive de Valentina, através de um antigo companheiro da seção de encomendas. é que ficou noiva de um funcionário da posta-restante, do quarto guichê após o dela.



Moravia, Alberto. Contos Romanos. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Berlendis Editores, 2003. (Racconti Romani).

Bibliografia

Traduções Publicadas

Carlo, Andrea de. Trem de Nata. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Berlendis Editores, 2002. (Treno di Panna).

Fonte, Joan Nogué & Rufi, Joan Vicente. Geopolítica, Identidade e Globalização. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Annablume, 2006. (Geopolítica, Identidad y Globalización).

Moravia, Alberto. Contos Romanos. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Berlendis Editores, 2003. (Racconti Romani).

Senatore, Antonio. Bandeira Anhanguera. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Lemos Editorial, 2001. (Bandeira Anhanguera: Viagem à Serra do Roncador). Versão bilíngüe.

Vários. Michaelis Tour: italiano para viagem. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

Vários. Michaelis: Dicionário Visual Inglês. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Melhoramentos, 2005. (Dizionario per immagini inglese).

Vários. Michaelis: Dicionário Visual Espanhol. [Por: Alessandra Paola Caramori]. São Paulo: Melhoramentos, 2005. (Dizionario per immagini spagnolo).

Apresentação | Créditos | Contato | Admin

ISBN:   85-88464-07-1

Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Comunicação e Expressão

Apoio:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Última atualização desta página

©2005-2024 - NUPLITT - Núcleo de Pesquisas em Literatura e Tradução

Site melhor visualizado em janelas com mais de 600px de largura disponível.